Esterco
Quando tudo parece estar finalmente andando, quando o povo de Israel está zonzo com a espiral vertiginosa de sucesso, o birrento criador aparece para destruir o templo e o reino. E não se contenta em fazê-lo apenas uma vez. O templo e o reino de Israel são lançados à poeira 2 vezes. Antes da segunda ruína o Filho do Homem ainda dá o recado: “disso não vai restar pedra sobre pedra”. E vai o templo para o chão de novo e, com ele, a esperança do reino.
Deus não tem compromisso com o templo, nem com a permanência, ou com a construção de algo que dure para sempre, que possa ser visto pelas próximas gerações como ‘algo que nós construímos’. Essas coisas nos seguram e prendem. Atam nossas mãos.
Então Paulo aparece e, com sua já conhecida falta de cuidado e polimento político (afinal de contas na carta ao gálatas, que já circulava por aí quando escreveu aos filipenses, já havia expressado sua intenção de capar os judaizantes), decreta, referindo-se a todo seu passado de dedicação carola à religiosidade: ‘considero tudo esterco’.
Eu já fiz. Já aconteci. Já construí. Já participei. Já servi. Mas tudo isso já não tem mais valor nenhum. Precisa ser jogado fora na esperança de que pelo menos sirva de adubo. O meu negócio, sustenta Paulo, é com o alvo. Com os próximos passos. Não há rancor, nem mágoa, nem desprezo, nem altivez, nem prepotência com o que ficou pra trás. Simplesmente passou. Simplesmente há novos passos a dar. O que importa é Cristo e ser encontrado nele. E quem sabe até, de alguma forma misteriosa, inexplicável e graciosa, alcançar a redenção.
“Esquecendo-me das coisas que ficaram pra trás e avançando para as que estão adiante…”
Filipenses 3 (leia o capítulo inteiro).
Originalmente publicado em: http://atrilha.blogspot.com/2009/08/desapego-5.html
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