O capítulo anterior termina falando da idolatria de Jeroboão, o novo rei de Israel. Além dos bezerros de ouro, restabeleceu o antigo costume de praticar a religião nos lugares altos (1 Reis 12.31). Instituiu sacerdotes por sua própria conta, e fez celebrar festas alternativas (alternativas, mas “igual à festa que se fazia em Judá”, 12.32). Ou seja, o novo rei vai criar um “povo de Deus alternativo”, mas que obviamente não será chamado assim. Na cabeça dele e do povo que pretende que o siga, será o “autêntico” povo de Deus. E assim, depois da divisão política temos divisão religiosa no seio do povo de Deus.
O motivo de fundo, para Jeroboão, era sobrevivência, pessoal e política (1 Reis 12.27). Mas naturalmente para o seu povo o discurso era outro. Talvez o mais significativo seja que para cada “mudança” dessas Jeroboão e os seus tinham argumentos extraídos da própria Instrução divina. E assim, com o tempo, vamos tendo “dois Israéis”, “dois povos de Deus”, cada um insistindo em sua autenticidade e legitimidade.
A história contada em 1 Reis 13 ilustra isso. “Profetas” já haviam aparecido antes na história bíblica. Mas agora, a partir da divisão do povo de Deus, eles vão se tornar presenças constantes. O profeta é chamado de “homem de Deus” (13.1). E como veremos, havia profetas tanto no reino do sul como no reino do norte. Esse fato marcará o tom da presente história, em seu contexto. O rei Jeroboão estava queimando incenso em um dos altares que havia mandado construir, e eis que aparece um homem de Deus, um profeta vindo do reino de Judá. “Por ordem do Senhor” (13.1,2), o profeta levanta a voz contra o rei de Israel, e faz uma profecia “contra o altar” (13.2). O tema da profecia é que Deus há de levantar futuramente um descendente da casa de Davi, que retomará o poder sobre o reino do norte e fará nesse mesmo altar um outro tipo de sacrifício. Queimará sobre esse altar não incenso ilegítimo, e sim os ossos dos sacerdotes ilegítimos que estão aí dirigindo os serviços religiosos que Jeroboão oferece ao seu povo (13.2).
Para atestar suas palavras, o profeta as faz acompanhar de um sinal divino: o altar vai se quebrar ao meio (13.3). O rei Jeroboão reage com grande indignação. Sua mão, até aí estendida para o altar no qual queimava incenso, aponta para o profeta e manda que o prendam. Ao fazer esse gesto, sua mão se paralisa, e paralisada ficou enquanto as palavras do profeta se cumpriam. O altar quebra ao meio e o que estava sobre ele é derramado, “segundo o sinal que o homem de Deus havia dado, por ordem do Senhor” (13.5). Vendo isso, imobilizado, o rei solicita ao homem de Deus que interceda a Deus por ele. O profeta intercede, e o rei tem sua mão restabelecida (13.6).
Essa passagem, nesse ponto da história bíblica, é paradigmática. Quer mostrar padrões que, a partir de agora, vão se manifestar nessa história e vão guiá-la subterraneamente. É Deus começando a se manifestar explicitamente no cenário da divisão do Seu povo, que ameaça se tornar cada vez mais profunda.
Dia 307 – Ano 1