O capítulo anterior (1 Reis 16) passou rapidamente por uma sequência de reis de Israel, o reino do norte, para chegar no final em Acabe, filho de Omri, cujo reinado vai ser tema dos próximos capítulos. 1 Reis 17 é dedicado a um profeta, Elias. Elias é enviado ao seu rei com o anúncio de uma longa estiagem por vir.
De certa forma, temos aqui duas novidades. A primeira é o protagonismo profético em meio às histórias dos reis. Elias não é um profeta qualquer. Já o jeito com que ele é apresentado mostra isso. “E Elias … disse a Acabe” (1 Reis 17.1). Formalmente ele fala em seu próprio nome. “O Senhor, o Deus de Israel, em cuja presença estou” havia lhe mostrado que uma grande estiagem se aproxima e que ela só terminaria quando Elias assim determinasse. Elias é um “homem de Deus” (17.18; 17.24) num sentido novo, um profeta com presença regular e continuada no conselho do Altíssimo.
A segunda novidade é que a própria terra, a natureza, começa agora a protestar pelas reincidentes maldades dos reis que nela governam. Profeta e natureza se aliam para denunciar as injustiças dos governantes. Até corvos mudam seus hábitos para levar ao homem de Deus não a comida que eles comem, mas a que é apropriada para ele (17.4-7).
Em dois momentos distintos, Elias é cuidado por Deus de formas não usuais. No primeiro ele se estabelece na fronteira oriental do reino de Israel, na segunda na fronteira ocidental. Ali ele mora na casa de uma viúva que estava se preparando para fazer a última refeição com seu filho (17.12). Nessa situação de extrema penúria, Elias lhe pede que primeiro asse um bolinho para ele, e depois para si própria e seu filho (17.13), com a promessa do cuidado de Deus por eles (17.14). A mulher acatou; “e assim comeram ele, ela e sua família por muitos dias” (17.15).
De alguma forma, o pouco de farinha e azeite que lhes restava era renovado dia após dia. O texto bíblico não tenta explicar a possível mecânica do processo. Onde Deus está ativamente presente, Sua criação se comporta de formas que respeitam e realizam a Sua vontade, esteja isso dentro de nossos cálculos ou não.
O capítulo termina narrando um incidente sério. O filho da viúva adoece e morre (17.17). Elias, que daí em diante é chamado pela mulher de “homem de Deus”, toma medidas que salvam o menino, trazendo-o de volta à vida. “O Senhor atendeu à voz de Elias, e a alma do menino voltou para dentro dele e ele reviveu” (17.23). Hoje, com nossa ciência em muitos aspectos superior, corremos o risco de perder de vista o que, para o texto bíblico, é um pressuposto para entender o ser humano e sua morte. A alma deixa o corpo, e ele morre. Em certos casos, como aqui, a alma pode voltar ao corpo, que então torna a viver. A alma transcende a morte física. Vem de Deus e a Deus retorna.
Dia 316 – Ano 1