Estamos tentanto entender o que 1 Reis 19.4 quer dizer ao dizer que Elias “pediu à sua alma para morrer”, e logo diz a Deus: “leva, Senhor, a minha alma”. Para ajudar, refletimos de novo sobre 1 Reis 17.17-22, onde é dito que a neshamá (respiração) saiu do menino doente e ele morreu. E que Elias suplica a Deus que faça voltar a alma (néfesh) do menino, e que Deus o atende, e que a alma do menino volta para dentro dele. E notamos que aqui parece haver uma compreensão diferente de vida e morte do que aquela a que estamos acostumados.
Em Gênesis 2.7 é dito que Deus fez a estrutura corporal do ser humano e soprou para dentro dela a neshamá (sopro) da vida, e o ser humano se tornou néfesh (alma) vivente. Nosso primeiro problema parece ser que entendemos neshamá como simples “respiração”, negligenciando o fato de que para nós respiração é função do corpo, vem de dentro dele. Aqui ela é um sopro de vida que vem direto do Criador, portanto dotada da vida imperecível do próprio Deus. Essa neshamá, ao se integrar à estrutura corporal, faz do ser humano uma néfesh (alma) viva. A alma, então, é a integração do sopro divino com o corpo humano. Em 1 Reis 17.17, a neshamá parece dotada de intencionalidade, ela sai do corpo do menino e ele morre. O exato reverso de Gênesis 2.7. Em 1 Reis 17.21-22 é dito que Deus pode fazer com que a alma (néfesh) volte a um corpo do qual havia saído, e que então a alma volta ao corpo e ele torna a viver. Aqui em 1 Reis 19.4, o texto no qual agora estamos meditando, o profeta Elias pede à sua alma para morrer. A alma (néfesh) parece dotada de intencionalidade. Ela pode sair do corpo. Ato seguinte, Elias pede a Deus que leve sua alma. A impressão que fica é que a alma e Deus decidem sobre a morte, que a alma tem intencionalidade e que Deus é o responsável último por tirá-la de dentro da pessoa.
Restaria entender bem o que significa pessoa nesse contexto. A primeira referência, quando alguém fala de si, de sua pessoa, é o corpo visível para si e para os outros. No entanto, está claro que sem a alma e o sopro divino a pessoa morre. E que a alma e o sopro divino seguem vivos, a ponto de a alma poder voltar ao corpo, em certos casos. A identidade da pessoa, que num primeiro momento é associada à sua existência corporal, é associada também à sua alma, que pode sair do corpo e continuar sendo essa pessoa, de alguma forma. O sopro divino e a alma que ele cria são a pessoa em seu ser mais profundo, preservando sua identidade pessoal. E seguem vivendo depois de se separarem do corpo ao qual estavam integrados, integrados ao qual formam esses seres maravilhosos que são os humanos, tão preciosos aos olhos do seu Criador.
Dia 322 – Ano 1