A nova” revelação de Deus no Sinai precisa ser compreendida, para podermos compreender a continuação da história que a Bíblia vai nos contando. Em meio ao descaso do povo para com a Instrução divina, Deus mostra ao profeta uma “camada mais profunda” da Instrução. Não a substitui por outra. Revela ao profeta o que está debaixo da superfície da letra, por assim dizer. Aprofunda. Mesmo as vozes que ouvimos na Escritura, e nas quais Deus se revela, são expressões, pálidas às vezes, de uma voz mais profunda, silenciosa mas que reverbera em nosso coração e nossa mente. É essa voz silenciosa que anima toda a Instrução divina. E é essa voz silenciosa que o nosso coração está preparado para ouvir, desde sempre. Quando no Éden os humanos transgrediram a determinação divina, essa voz, que eles estavam acostumados a ouvir e pela qual sempre esperavam, subitamente se tornou uma voz alta e ameaçadora, a ponto de se esconderem dela. E a Instrução sinaliza que ali algo trágico aconteceu.
Muito, muito tempo depois (e ao mesmo tempo parece que foi há um segundo!) o profeta Elias ouve essa voz como Adão e Eva a ouviam. Palavras são desnecessárias, Deus não “fala” aqui. E Elias compreende. A história continua! Deus, o Deus do Éden, o Deus dos humanos, está no controle, não importam as aparências.
A história continua. Primeiro Deus repete a pergunta que já tinha feito a Elias: “Que fazes aqui, Elias?” (1 Reis 19.13). A resposta de Elias é exatamente a mesma (19.14). A sequência dirá se tudo continua o mesmo, ou se ali principia uma mudança de rumo na história da revelação de Deus ao Seu povo e à humanidade. “Vai, volta ao teu caminho pelo deserto”, Deus diz a Elias (19.15). E acrescenta algumas instruções para que Elias continue sendo o profeta que era (ungir reis, ungir um profeta). A vida continua. Mas Elias não é mais o mesmo. O que ele viu nesse dia tem potencial transformador para ele e para todo o povo.
Muito tempo depois, outro profeta, Jeremias, vai anunciar que um dia todos poderão vivenciar o que Elias vivenciou nesse dia. “Dias virão”, diz o Senhor, em que farei com a casa de Israel e a casa de Judá uma nova aliança. … Porei a minha Instrução dentro deles, no seu coração a escreverei. … Todos me conhecerão, … porque perdoarei suas iniquidades, não mais me lembrarei dos seus pecados” (Jeremias 31.31-34). Essa experiência se reflete no espaço cósmico, onde a glória de Deus, as obras de Suas mãos, são proclamados, “sem linguagem, sem palavras; sua voz não ressoa”. Contudo, “por toda a terra se pode ouvir o seu eco” (Salmos 19.1-4). A voz silenciosa ouvida por Elias nos é natural. Mas perdemos a capacidade de ouvi-la. No universo reconciliado, ela será de novo voz de Deus para nós. Levar adiante o projeto divino de reconciliação, é a tarefa para a qual Elias é (re)enviado agora.
Dia 326 – Ano 1