No Monte Horebe, Deus faz uma pergunta a Elias: “Que fazes aqui, Elias?” (1 Reis 19.9). Num primeiro momento nem entendemos bem. A resposta mostra que Elias tem claro o seu compromisso com Deus, mas os filhos de Israel abandonaram a aliança. Ele se sente só, e agora querem matá-lo (19.10). Então Deus Se mostra a Elias, envolvido pela natureza, que O revela e ao mesmo tempo O esconde.
Primeiro sopra um vento muito forte, quebrando rochas em redor. O texto é lacônico e repetitivo. “O Senhor não está no vento”. Depois do vento, um terremoto. “O Senhor não está no terremoto”. Depois do terremoto, fogo. “O Senhor não está no fogo”. Depois do fogo, “uma voz suave e silenciosa”. Ao ouvi-la, Elias cobre o rosto com o manto. E uma voz lhe pergunta: “Que fazes aqui, Elias?” (19.11-13).
No começo e no fim há uma pergunta de Deus a Elias: “Que fazes aqui?”, talvez no sentido de “Que vieste buscar aqui?”. Elias se sentia no fim. Sozinho e jurado de morte, põe o pé na estrada, fazendo um caminho inverso ao dos israelitas quando conquistaram a terra. Elias é como que levado de volta às fontes da identidade do seu povo. Por isso esse episódio é muito importante neste momento da narrativa bíblica.
Deus se revela a Elias, e o texto deixa a entender que nessa revelação se encontra a resposta que ele procura. Três fenômenos ocorrem. Em comum, o dito de que Deus não está neles. Muito tempo atrás, os israelitas saídos do Egito se encontravam nesse mesmo lugar, e Deus apareceu a eles. “No terceiro dia, no amanhecer, houve vozes, relâmpagos e uma espessa nuvem sobre o monte, e uma voz de trombeta muito forte; … o Senhor desceu sobre ele com fogo, … e o monte tremeu fortemente” (Êxodo 19.16-18). Fenômenos bastante parecidos ocorrem agora na presença de Elias. Mas dessa vez, Deus não está neles.
Muito tempo passou entre esses dois acontecimentos. O povo, depois de andar 40 anos pelo deserto, entrou na terra prometida e se instalou nela. E passaram-se gerações. O propósito de Deus continua o mesmo. Que esse povo aprendesse a viver segundo a Instrução divina, e realizasse a missão confiada ao pai Abraão: ser bênção a todos os povos. Entrementes, porém, eles foram se acomodando, ficando ambiciosos, “querendo ser iguais a todo mundo”, como diziam. As divisões, as fraturas trazidas pelo pecado foram sendo naturalizadas e passaram a se tornar a realidade pura e simples. Foram esquecendo que Deus só pode haver um, mesmo que rezassem todo dia de manhã e de noite: “Ouve, Israel, o Senhor é nosso Deus, o Senhor é Um” (Deuteronômio 6.4). E chegou um ponto em que, como os outros povos, também Israel tinha sua coleção de deuses. Agora, até o último profeta do Senhor em atividade, Elias, está jurado de morte pelo poder constituído, que estimulou o culto a esses outros deuses.
Dia 324 – Ano 1