O texto volta ao dia a dia das relações políticas, que havia sido interrompido no fim de 1 Reis 16 para contar histórias sobre o profeta Elias, depois retomado no capítulo 20 para ser novamente interrompido no capítulo 21, para contar a história de Nabote e a profecia de Elias. Todo o capítulo 16 é dedicado à sequência dos reis de Israel, o reino do norte, durante o longo reinado de Asa em Judá, o reino do sul. Agora somos introduzidos a um personagem ainda não apresentado: Josafá, rei de Judá. O texto o coloca direto em ação (1 Reis 22.2), para apresentá-lo somente mais tarde, em 1 Reis 22.41-42. Josafá é filho de Asa, que havia reinado 41 anos em Judá.
Nesse momento as relações entre os dois reinos parecem pacíficas. Josafá, o rei de Judá, vai visitar o rei de Israel, quando este se preparava para uma incursão a Ramote Gileade, em território disputado com os sírios. O rei de Judá sugere primeiro consultar um profeta, e aí uma história se desenrola. É significativo que todo o tempo se fala no “rei de Israel”, sem nomeá-lo.
Interpelado sobre consultar profetas, o rei de Israel ajunta uns quatrocentos deles (1 Reis 22.6). Ao serem consultados sobre ir ou não ir à guerra, eles respondem em uníssono: “Sobe, Adonai os entregará na mão do rei”. Josafá, porém, não se convence e pergunta se não há algum profeta do Senhor a quem possam consultar. O rei de Israel responde: “Há um, por ele se pode consultar o Senhor; mas eu o odeio. Ele nunca profetiza coisa boa sobre mim, só o mal” (22.8). Josafá insiste cortesmente, e o rei de Israel manda chamar Micaías, o profeta. Quando ele chega, o cenário no portão de Samaria é imponente. Os dois reis, em seus tronos e trajados para a ocasião, e um sem número de profetas desempenhando seu ofício. Um deles, Zedequias, inclusive lança mão de coreografia e se apresenta com uns chifres de ferro e clama: “Assim diz o Senhor: com estes ferirás os sírios até acabar com eles!” (22.11). E os outros profetas ecoavam: “Sobe, triunfarás, o Senhor os entregará na mão do rei” (22.12).
Antes da chegada de Micaías, convém refletir sobre um pequeno detalhe que numa leitura corrida, e mesmo numa tradução, facilmente podemos deixar de perceber. Na primeira vez que o rei de Israel consulta os profetas, eles falam em nome de Adonai (22.6), e o rei de Judá pergunta: “Não há algum profeta do Senhor por aqui?” (22.7). O rei de Israel diz que por Micaías se pode “consultar o Senhor” (22.8). Quando Micaías é chamado, antes de ele chegar, os profetas parecem adaptar o discurso e agora profetizam em nome “do Senhor” (22.11,12). Mas a mensagem segue a mesma.
O texto parece fazer um pequeno suspense antes da chegada de Micaías, o profeta do Senhor. Talvez seja bom preservarmos o suspense e esperar para ver o que acontece.
Dia 331 – Ano 1