Naquele tempo, uma das principais funções do rei era ser juiz, julgar as questões e as causas do povo. No diálogo com Deus, no sonho (1 Reis 3.6-14), Salomão se mostra consciente disso, e também de sua falta de experiência e capacidade. O relato a seguir traz um episódio concreto em que ao rei é demandado julgar uma causa que lhe é trazida.
Duas mulheres trazem sua causa diante do rei (v.16). A situação é descrita (v.17-18), seguida do contencioso (v.19-22). As duas tiveram bebês, e o bebê de uma havia morrido durante a noite, por um descuido. A mãe descuidada acorda durante a noite e percebe que seu bebê está morto. Sorrateiramente, substitui as crianças, ficando ela com a que estava viva. A outra acorda para dar de mamar, e percebe que seu filho está morto. Pela manhã, olhando bem, ela percebe que a criança morta não é seu filho. E leva a causa ao rei.
Diante do impasse, a sentença do rei é que a criança viva seja partida ao meio e cada uma fique com uma metade (v.23-25). O instinto materno leva uma das mulheres a pedir ao rei que não faça isso, e o rei reconhece que ela é a verdadeira mãe. Caso encerrado. A notícia do episódio se alastra, e o povo, com profundo respeito, percebe no rei “sabedoria divina para fazer julgamentos” (v.28).
Uma história simples, de gente simples e um rei que vai se tornando reconhecido. Essa junção do pequeno com o grande, quer nos levar a pensar. O que distingue um rei, aqui, é a capacidade de respeitar o cotidiano das pessoas e de dar um bom encaminhamento às causas dessas pessoas. O v.16 nos diz, de passagem, que as duas mulheres eram prostitutas. Em momento algum isso lhes trouxe desvantagem ou desprezo, do ponto de vista do seu tratamento como pessoas. O rei as respeita. Dedica tempo ao problema delas. E chega a uma sentença onde o fator humano é privilegiado acima de qualquer coisa. Colocando esse episódio neste ponto da narrativa, o texto bíblico mostra que isso, sim, é auspicioso.
Dia 287 – Ano 1