O capítulo anterior terminou com o confronto entre Saul e Samuel, o confronto entre duas formas de autoridade. O rei já tinha introjetado o espírito monárquico, e se colocado como instância suprema. Vimos como, no caso de Saul, isso se deu em meio a uma grande crise. As circunstâncias o pressionavam. Para o texto bíblico, a atitude de Saul marca o começo de um confronto entre os dois reis de Israel: o rei e Deus. Confronto que nunca era para ter acontecido, não no povo de Deus. Por isso a reação indignada e radical de Samuel.
O presente capítulo nos deixa curiosos para ver o que acontecerá com Saul, já que Samuel tinha anunciado o fim do seu reinado. Duas coisas nos são mostradas. Primeiro, que a atitude de Saul não foi um fato isolado, mas mostrava uma tendência. Tendência a se tornar cada vez mais prepotente. E fazer cada vez mais besteira. Segundo, que seu filho Jônatas mostra como podia ser um “rei de verdade” em Israel. A ironia é que, à medida em que Jônatas ganha destaque na narrativa, Saul passa a fazer besteira contra o próprio Jônatas. Não fosse o povo ter se colocado decididamente do lado de Jônatas, pelo final do capítulo Saul o teria matado (v.45). Os v.24-45 contam como Saul havia feito um juramento, impensadamente. Jônatas o quebrou sem saber, e Saul insistiu em cumprir a pena: quem quebrasse o juramento morreria.
Jônatas por duas vezes vence os filisteus em condições adversas (14.1-23; cf. 13.3). A força que o inspira é a fé (v.6: para Deus não faz muita diferença, salvar por meio de poucos ou de muitos). Isso lhe atrai simpatia e obediência sem reservas de parte do povo (cf. os v.7 e 45).
O capítulo termina com Saul firmando o seu reino: guerreando contra os inimigos e fortalecendo seu exército e seu poder (v.47-52). Percebe-se no ar a ironia da situação. Samuel tinha dito que Deus não firmaria o reino de Saul, mas o passaria a outro. A narrativa, então, mostra Jônatas com potencial para ser esse outro, mas termina mostrando Saul firmando o reino por si próprio.
Dia 244 – Ano 1