No capítulo anterior, vimos como as relações entre Samuel e Saul chegaram a um estremecimento tal, que o texto registra expressamente que “Samuel nunca mais viu Saul novamente” (1 Samuel 15.35). O capítulo 16 começa com Deus falando a Samuel e cobrando uma atitude: “até quando ficarás lamentando por Saul, que eu rejeitei?” (16.1). E a atitude é: ungir aquele que Deus escolheu para ser rei de Israel, em lugar de Saul.
A resposta de Samuel evidencia a prepotência com que Saul reinava: “Saul vai ficar sabendo, e vai me matar” (v.2). Um plano é montado, então, para que Samuel possa ir a Belém encontrar a família de Jessé e ungir o novo escolhido. Jessé apresentou a Samuel, um por um, seus sete filhos (v.5-10). Mas não é nenhum deles. Há ainda um oitavo, o caçula, que está no campo cuidando das ovelhas (v.11). Jessé mandou que o chamassem, e Deus indica a Samuel: é esse (v.12). Samuel o unge, e o Espírito do Senhor desce sobre ele e fica com ele daquele dia em diante (v.13), retirando-se de Saul (v.14).
Na perspectiva da Bíblia, Davi é o novo rei. Deus o escolheu, o enviado de Deus o ungiu, o Espírito de Deus o revestiu. Estes são os dados que realmente contam, desde essa perspectiva. Desde a perspectiva humana, porém, o rei é Saul, e ainda continuará por muito tempo, como a continuação da história vai mostrar. O Espírito se retirou de Saul, mas a instituição permanece sob seu poder, poder que ele astutamente tinha fortalecido pouco a pouco.
E assim Israel tem dois reis de agora em diante. Surgem aqui várias questões relevantes. Saul foi ungido. Essa unção é vitalícia? (Davi, mais adiante, vai respeitar essa unção de Saul, mesmo que ele próprio também tenha sido ungido). Começa a despontar aqui um problema que acompanhará a história do povo de Deus: a tensão entre o carisma e a instituição, entre a escolha divina e as nossas, entre o jeito divino e o nosso.
Dia 246 – Ano 1