Um breve capítulo relata o fim de Saul e de seu reinado. Tudo já vinha levando para esse ponto. E ainda assim, quando lemos esse trecho sentimos tristeza. 1 Samuel 31.6 resume laconicamente o resultado da batalha contra os filisteus, aquela da qual Davi e seus homens haviam sido mandados embora: “Morreu Saul e seus três filhos e seu escudeiro, e junto todos os seus homens, nesse mesmo dia”.
No outro dia, ao saquearem o campo de batalha, os filisteus encontram os corpos de Saul e seus três filhos. Cortam a cabeça de Saul e a fazem circular entre o povo, em triunfo (v.9). Os moradores de Jabes-Gileade, então, resgatam os corpos e lhes prestam as últimas honras (v.11-13).
Ver Saul desabando desse jeito, traz um misto de solidariedade e compaixão. Em retrospectiva, vemos que ele foi prensado entre o propósito divino de fazer de Israel um povo que traz reconciliação ao mundo, e as demandas de uma vida política na qual ele talvez tenha sido introduzido muito rápido e despreparado. O texto bíblico celebra o porte físico (1 Samuel 9.2; 10.23-24) e a bravura de Saul (18.7; 31.4) e reconhece nele uma ambivalência que acabou fazendo-o pender mais para o lado de tentar resolver as coisas do jeito “normal” aos humanos, em sua luta por sua sobrevivência e a de sua família.
Ver Jônatas desabando desse jeito, traz grande tristeza. Jônatas compreendeu cedo a perspectiva divina. Isso o levou a discordar da política de seu pai. Mesmo assim, lhe foi solidário até o fim, mesmo já tendo percebido há tempo qual seria esse fim. Não se separou do pai nem na hora da morte (2 Samuel 1.23), bravamente o defendeu enquanto pode (1 Samuel 31.2).
O fim dessa história nos leva a um momento de recolhimento, saudando os mortos e meditando sobre a finitude, a fragilidade e a complexidade da vida humana. Em certo sentido, somos nós que somos retratados nessas histórias. A humanidade dos personagens bíblicos não deixa de ser a nossa, exposta aos nossos próprios olhos.
Dia 258 – Ano 1