Os sírios estavam oprimindo os israelitas. Recordamo-nos ainda que Hazael rei da Síria, foi ungido pelo profeta Eliseu (2 Reis 8.7-12). Quando Eliseu o fitou nos olhos, chorou por causa do que viu. “Estou vendo o mal que farás aos filhos de Israel”, disse-lhe Eliseu, e lhe disse algumas das coisas cruéis que estava vendo refletidas nos olhos de Hazael. E aí podemos entender porque o texto se lamenta pela cruel opressão que os sírios estavam exercendo sobre os israelitas.
Mas Deus estava vendo e ouvindo. “E o Senhor deu a Israel um salvador” (2 Reis 13.5), que os libertou. E os israelitas puderam ter um pouco de alívio. Contudo, a experiência do sofrimento, e a brutal redução do seu exército, não os levou a aproveitar para botar a casa em ordem. “Mas não se apartaram dos pecados da casa de Jeroboão” (13.6). Morrendo Jeoacaz, seu filho Jeoás assume o seu lugar, e reina por 16 anos em Israel (13.9-10). Jeoás também “fez o que era mau diante dos olhos do Senhor” (13.11). De seu reinado se ressalta o fato de que “fez guerra contra Amazias, rei de Judá”.
De Jeoás se conta também uma história envolvendo o profeta Eliseu (13.14-25). Jeoás visita Eliseu em seu leito de morte, e curiosamente o saúda com as mesmas palavras que Eliseu disse quando Elias foi elevado ao céu diante dele (13.14). Só que aqui o sentido é de lamentação, pois Jeoás chora. Talvez pensando que, com a morte de Eliseu, os “carros de Israel e seus cavaleiros” irão embora de Israel. Eliseu responde pedindo a Jeoás para pegar um arco e flechas. Eliseu põe suas mãos sobre as dele e lhe pede para abrir a janela que dá para o leste, e atirar. E faz uma profecia sobre vitórias de Israel sobre os sírios (13.17). Depois lhe pede para pegar flechas e atirá-las contra o chão. Jeoás atira três vezes, e Eliseu reclama que ele devia ter atirado mais, até eliminar o poder sírio. Em 13.25 lemos que Jeoás venceu três vezes os sírios em combate.
Chama a atenção neste capítulo a questão do profeta como canalizador da energia do sagrado. Quando a sunamita veio dar a Eliseu a notícia da morte do filho, ela “lhe abraça os pés” e imediatamente o ajudante de Eliseu tenta afastá-la (2 Reis 4.27). Eliseu se deita sobre o menino morto, e ele volta à vida (2 Reis 4.34-35). Agora, Eliseu põe suas mãos sobre as de Jeoás, e a ação que segue se torna uma ação profética. E o texto ainda traz uma pequena história. Eliseu morreu e foi enterrado. Tempos depois, quando iam enterrar ali uma outra pessoa, um ataque inimigo os leva a largar o corpo na cova de Eliseu. Quando ele tocou os ossos de Eliseu, “reviveu e se levantou” (13.21). Essa energia espiritual é parte do mundo como Deus o criou, e em si não implica necessariamente uma santidade ou moralidade especial. O próprio Eliseu nem sempre a usou para o bem. A história de Balaão (Números 22 — 24) ilustra bem tanto o potencial como o perigo do seu mau uso, que é advertido em textos como Deuteronômio 18.9-14 e outros.
Dia 355 – Ano 1