Estamos tentando entender os vaivéns da vida religiosa e política no reino de Judá. O longo reinado de Manassés, filho de Ezequias, parece ter não só solapado os bons processos que seu pai havia posto em marcha. Os maus processos que vinham se desenvolvendo nas últimas gerações voltaram a ter rédea solta, e vemos aonde isso levou. “E o Senhor falou através dos Seus servos, os profetas” (2 Reis 21.10). Na sequência dos Livros dos Reis, que estamos lendo, teremos oportunidade de mergulhar nas mensagens dos profetas enviados por Deus nesses anos decisivos da vida do Seu povo.
“Desde o dia em que os pais deles saíram do Egito eles vem me provocando”, diz o Senhor (21.15). A história do povo de Deus como relatada na Bíblia, esteve desde sempre marcada por essa contradição. O projeto divino de reconciliação da humanidade passa por uma atenção especial para com um povo, escolhido para ser o solo fértil onde a Instrução divina possa florescer e de onde possa se alastrar a todos os povos.
“Israel, se me ouvisses! …
Mas o meu povo não ouviu a minha voz.
Israel não quis ligar sua vontade à minha. …
Se o meu povo me ouvisse!
Se Israel andasse nos meus caminhos! (Salmos 81.8-13).
Os caminhos do Senhor são de bênção, bênção que ao ser recebida se espalha e se torna bênção para todos. Mas “Israel não quis ligar sua vontade à minha”. Assumir voluntariamente o projeto divino faz parte da essência desse projeto. E também o risco da não-reciprocidade.
“Por isso, assim diz o Senhor, o Deus de Israel: Eis que estou trazendo o mal sobre Jerusalém e Judá” (21.12). Jerusalém será julgada com o mesmo rigor que Samaria. A casa de Davi será julgada com o mesmo rigor que a casa de Acabe. “Acabarei com Jerusalém como quem acaba com a sujeira de um prato” (21.13). “Abandonarei o resto da minha herança” (21.14). Os mesmos processos negativos que haviam causado a ruína do reino de Israel deixaram em fase terminal o reino de Judá. E seu destino será o mesmo.
Manassés morre de sua longa vida, e “é sepultado no jardim de sua casa” (21.18). Uma novidade. Até depois da morte ele quis se dissociar dos seus antepassados (o costume era ser enterrado no cemitério da família). “E seu filho Amon reinou no seu lugar”. Também ele “fez o que era mau diante dos olhos do Senhor” (21.20). Andou em todo o caminho de seu pai, e “abandonou o Senhor, o Deus dos seus antepassados” (21.22). Amon reinou por dois anos. Foi morto em uma conspiração de dentro do próprio palácio. Os conspiradores foram mortos pelo “povo da terra”. E o “povo da terra” colocou no trono o filho de Amon, Josias, de 8 anos de idade, mantendo a casa de Davi no poder em Jerusalém. Mesmo que o fim esteja decretado, o texto parece insistir numa pontinha de esperança.
Dia 365 – Ano 1