Zedequias foi o terceiro dos filhos de Josias a subir ao trono em Jerusalém. Provavelmente há nisso um esforço de legitimização. Jeoacaz, que era o herdeiro legítimo de Josias, foi substituído por seu irmão Eliaquim, por imposição do faraó do Egito, que lhe mudou o nome para Jeoaquim. O filho de Jeoaquim, Joaquim, reinou só três meses. Por imposição dos babilônios, foi substituído por seu tio Matanias, com um novo nome: Zedequias.
Zedequias “fez o que era mau diante dos olhos do Senhor” (2 Reis 24.19). Também ele, depois de um tempo, rebelou-se contra o poder imperial (24.20). E assim, no ano 9 do seu reinado, Nabucodonosor com seu exército cercou Jerusalém (2 Reis 25.1). Cercos a cidades faziam parte do menu nessa época. As cidades que eram centros de poder já eram construídas em lugares de difícil acesso, rodeadas por altas e fortes muralhas, justamente por isso. Fazia parte da estratégia de guerra longos cercos, em que um exército se acampava por anos ao redor de uma cidade, controlando suas vias de acesso e construindo máquinas de guerra capazes de derrubar a resistência inimiga.
Jerusalém permaneceu sitiada por quase 3 anos, numa penúria cada vez maior, até que enfim uma parte da muralha foi arrombada. Zedequias, que na noite anterior tentara uma fuga, foi detido. Mataram seus filhos diante dele, e depois vazaram-lhe os olhos (25.2-7). Os babilônios arrasaram a cidade e a saquearam. Também destruiram o templo, e carregaram tudo que era precioso, o que incluía todo tipo de utensílio usado nos serviços religiosos (25.8-17). Mataram o restante dos “importantes” e mais alguns (25.18-21). O que restou do povo foi colocado sob um governador, e a sede do governo foi transferida para Mispa, ao norte de Jerusalém.
As tropas remanescentes no interior do país fizeram um pacto com Gedalias (25.23-24). Mas aí Ismael, que era da casa real de Judá e provavelmente viu nisso uma oportunidade de chegar ao poder, deu um golpe de estado e matou Gedalias, e com ele os judeus e os babilônios que faziam parte da administração em Mispa. Temendo as represálias, o restante do povo e alguns militares fugiram para o Egito (25.25-26). Não sem ironia, a narrativa nos coloca de volta no ponto de partida. Um êxodo ao reverso. A história do povo de Deus começa e termina no Egito!
Uma última nota histórica nos Livros dos Reis, no entanto, aponta para a frente, trazendo um sinal de esperança. Joaquim, o filho de Josias que tinha reinado só três meses em Jerusalém, havia sido levado para a Babilônia com toda a sua corte (24.12-26). Os 11 anos do reinado de seu tio Zedequias em Jerusalém correm em paralelo com a preservação da vida do rei no exílio. Então, 26 anos depois da destruição de Jerusalém e do templo, uma troca de poder na Babilônia propicia o que talvez poucos ainda esperassem. O rei de Judá é agraciado e recebe um novo status. A narrativa bíblica, sem deixar de mostrar os pecados e transparecer as angústias, vê aí, sem mencioná-lo explicitamente, a voz silenciosa de Deus abrindo caminho para a redenção do Seu povo.
A partir de agora, o Guia de Leitura da Bíblia seguirá a ordem dos livros como se encontram no cânon judaico. Este é dividido em 3 partes: Torá (“Instrução”), Profetas e Escritos. Os Profetas, por sua vez, são divididos em dois grupos: Profetas Anteriores (Josué, Juízes, Samuel e Reis) e Profetas Posteriores (Isaías, Jeremias, Ezequiel e os Doze “profetas menores”). Essa ordem capta bem os movimentos do texto e da narrativa e sua sequência.
Dia 4 – Ano 2