Como anunciado em 2 Reis 1.17, Acazias filho de Acabe morrera sem ter filhos, depois de reinar dois anos em Israel. Seu irmão Jorão assumiu em seu lugar, e é dele que fala 2 Reis 3.1. Reinou doze anos, e “fez o que era mau diante dos olhos do Senhor”. Sem andar completamente nos maus caminhos de seu pai e sua mãe, “aderiu aos pecados de Jeroboão” (3.3).
Naqueles dias, o reino de Moabe era tributário de Israel, tendo que pagar um tributo que era especificado em pactos de vassalagem, bastante comuns na época. Muitas vezes a morte de um rei e o processo de sucessão geravam guerras por independência. Isso é o que vemos aqui (3.5). Em resposta, o recém empossado rei de Israel vai tentar suprimir o que, do seu ponto de vista, é rebelião. Como era costume no tempo de seu pai Acabe, Jorão manda mensageiros a Josafá, rei de Judá, pedindo-lhe que se junte a ele. Josafá concorda, e a eles se junta ainda o rei de Edom, também vassalo de Israel.
Partiram os três com seus exércitos, e depois de uma semana não tinham mais água para as tropas e os rebanhos. O rei de Israel se desespera, mas Josafá sugere consultar um profeta do Senhor (3.11). E assim eles vão bater na porta de Eliseu. Eliseu recebe o rei de Israel com alguma brutalidade. “Vai aos profetas do teu pai e da tua mãe” (3.13). Em reação o rei de Israel, que de novo não é mencionado por nome, alega que foi o Senhor que chamou para a guerra os três reis, e agora os deixa na mão. “Em respeito a Josafá, rei de Judá”, diz Eliseu, ele manda trazer “um tocador (de instrumento de corda)”. E o texto diz que “enquanto o tocador tocava, a mão do Senhor veio sobre” Eliseu (3.15).4
Tocado pelo poder de Deus, Eliseu diz: “Façam valetas por todo este vale. Assim diz o Senhor: Sem que vocês vejam vento ou chuva, este vale se encherá de água” (3.17). E assim foi: pela manhã, na hora da oferta no templo em Jerusalém, “águas corriam do caminho de Edom, e encheram a terra” (3.21). Entre a palavra profética e seu cumprimento, há uma fala (3.18-19) que o texto não deixa claro se é de Deus ou do profeta. Como 3.18 fala de Deus na terceira pessoa, Eliseu poderia estar acrescentando uma palavra pessoal. E se parece pouco, diz o profeta, Deus ainda entregará Moabe na mão de vocês. E dá instruções aos três reis: destruir as principais cidades dos moabitas, especialmente as fortificadas; derrubar toda árvore boa; entupir todas as vertentes de água; encher de pedras toda lavoura fértil (3.19). Instruções que depois serão levadas ao pé da letra (3.25).
Textos como esse suscitam perguntas difíceis de responder. Por que destruir a natureza desse jeito, para poder ganhar uma guerra? Um objetivo de curto prazo, mesmo que pudesse ser legitimado, justificaria uma destruição ambiental que por anos deixaria a terra improdutiva e afetaria seriamente o equilíbrio ecológico da região?
Dia 338 – Ano 1