Continuamos com histórias sobre o profeta Eliseu, agora alternando entre relatos mais domésticos e relatos envolvendo a geopolítica regional. 2 Reis 5 tratou de um caso ligado à diplomacia internacional, com a vinda do general sírio Naamã a Israel, em visita oficial, para ser curado de sua lepra pelo profeta Eliseu. 2 Reis 6.1-7 retorna à cena doméstica. Os discípulos dos profetas decidem construir um puxado em sua casa, e vão buscar madeira nos bosques às margens do rio Jordão. Acidentalmente, o machado de um deles parece ter escapado do cabo e caiu na água. E era emprestado. Informado do ponto exato em que o machado caiu no rio, Eliseu toma uma medida para nós enigmática. Corta, ou desbasta, um ramo ou um tronco de árvore e o joga na água e faz o ferro flutuar.
São pequenas histórias que mostram o amplo compasso da religião e também da profecia israelita. O dia a dia das pessoas e das famílias está sob o cuidado divino, tanto quanto as relações de poder internacionais. A segunda história do capítulo (2 Reis 6.8-23) amplia novamente o compasso. O episódio de Naamã já parece esquecido, ou é simplesmente mantido no âmbito das relações privadas.
O rei da Síria se movimenta para fazer guerra a Israel. Mas aí acontece algo sem explicação. Por mais que o rei e seu alto comando façam reuniões em sigilo de estado, em seguida o “homem de Deus” manda mensagem ao Rei de Israel: em tal e tal lugar os sírios estão se preparando para atacar (6.9). O rei manda conferir e é verdade. E assim pode tomar medidas defensivas; e isso se deu “nem uma nem duas vezes”, diz o texto (6.10).
O desconforto e a preocupação vão crescendo no lado sírio. O rei, a essa altura, está convicto: alguém aqui está nos traindo (6.11). Finalmente um dos seus homens traz informação relevante. Não se trata de espião infiltrado. Bem, esticando ao máximo o conceito de espionagem, talvez até pudesse se tratar de algo assim. Mas é bem diferente. Por mais insólito que pareça, o que acontece é que “Eliseu, o profeta de Israel, informa o rei de Israel” sobre tudo que é dito aqui, mesmo nos lugares mais reservados. A reação do rei é típica: descubram onde ele está, que eu vou mandar prendê-lo. E veio a informação: Eliseu está em Dotã, uma cidadezinha no norte de Israel, não longe da capital Samaria.
Começa, então, uma operação surpresa. Cavalos, carros e uma forte tropa são secretamente deslocados à noite, e cercam a cidade. Quando amanhece, o ajudante do homem de Deus sai “e vejam: um exército rodeando a cidade, com cavalos e carros”. Assustado, o rapaz grita e pergunta a Eliseu: “Que faremos?” (6.15). A reação de Eliseu é surpreendente: “Não tenha medo”, diz ele ao rapaz. Tão surpreendente, que talvez seja melhor parar por aqui, no momento, e pensar sobre o que poderia explicar reações tão disparatadas: o rapaz terrivelmente assustado, e o profeta não demonstrando preocupação alguma.
Dia 344 – Ano 1