As histórias aqui relatadas não têm uma sequência temporal muito definida. Em 2 Reis 8.1-6 temos um relato que se conecta com 4.8-37, a história da sunamita que hospedava Eliseu, e de quem ele trouxe o filho de volta à vida. Eliseu a alerta de uma estiagem iminente, sugerindo-lhe que se mude para outro lugar até que a normalidade retorne. A mulher faz como o profeta sugere e se muda para a Filístia, ao sul, e ali passa sete anos.
Ao fim de sete anos, a mulher retorna ao seu lugar de origem. Mas sua terra e sua casa estavam agora em mãos de outros. Ela apresenta queixa ao rei, como é de praxe em casos como esse. E aconteceu que o rei estava justamente pedindo a Geazi, o ajudante de Elias, que lhe contasse alguns dos feitos de seu mestre. E justamente quando ele estava contando a história do menino que Eliseu havia feito reviver, eis que a mãe do menino é trazida em audiência ao rei. “Pois essa é a mulher”, diz Geazi, “e esse o filho dela, que Eliseu trouxe de volta à vida”.
A feliz coincidência favoreceu a mulher. O rei ordena que lhe devolvam tudo que é dela, e ainda a renda das colheitas dos anos em que ela esteve fora. A narrativa parece se deleitar nessas “coincidências” da vida, e parece entender que isso é parte da recompensa à mulher pelo bem que ela fez ao homem de Deus.
O relato seguinte (2 Reis 8.7-15), tem bem outro tom. Eliseu estava passando por Damasco e Ben Hadade, o rei da Síria, estava doente. Ele manda um dos seus homens consultar o homem de Deus sobre a sua condição de saúde. Com sua comitiva e muitos presentes, Hazael, o enviado, se apresenta ao profeta. Eliseu lhe dá uma dupla resposta. “Vai e diz ao rei que ele vai se curar”, diz o profeta, talvez diante de mais gente. Depois, talvez particularmente a Hazael, “mas o Senhor me mostrou que ele vai morrer” (8.10). E fitou Hazael nos olhos, de forma tão intensa que este ficou embaraçado. Aí Eliseu chora. Hazael lhe pergunta porque ele está chorando, e Eliseu responde: “Porque eu sei”, diz o profeta, “que farás muito mal aos filhos de Israel” (8.12). “O Senhor me mostrou que serás rei da Síria”. Então Hazael vai e anuncia ao rei o que Eliseu havia dito, que ele se curaria. E no dia seguinte o mata em seu leito, e assume o poder (8.13-15).
Uma história com detalhes inusitados, que poderiam levar a reflexões. Chama a atenção o vínculo emocional entre o profeta e seu povo. Eliseu viu, na feição de Hazael, o quanto ele seria cruel com os israelitas quando assumisse o reino. Um profeta confronta o povo quando chamado a isso, é parte de sua missão. Mas o faz no espírito de amor que emana da relação de Deus com Seu povo. O poder espiritual associado à profecia, emana da mesma fonte que o terno amor que Deus e profeta dedicam a esse povo.
Dia 348 – Ano 1