O restante de 2 Reis 8 é dedicado às sucessões de poder nos reinos de Judá e Israel. Que se encontram divididos, mas na perspectiva da narrativa são um só povo de Deus. A última notícia de “troca de comando” havia sido em 2 Reis 3.1-3, com a posse de Jorão sobre Israel, no ano 18 do reinado de Josafá em Judá. De lá até aqui o texto se concentrou em histórias sobre o profeta Eliseu. Agora (2 Reis 8.16) temos o anúncio de que no ano 5 do reinado de Jorão em Israel, Jeorão é empossado rei de Judá, iniciando um período de co-regência com seu pai Josafá, sobre a qual não temos mais informações. Isso acontecia quando por alguma razão o rei ficava impossibilitado de governar, então um dos filhos passava a governar oficialmente junto com ele.
O reinado de Jeorão se estendeu por 8 anos (8.17). Jeorão “andou nos caminhos dos reis de Israel”, ou seja, no estilo Jeroboão. “Fez o que era mau diante dos olhos do Senhor”. O texto o associa ao jeito de governar da “casa de Acabe”, com cuja filha se casou. Em seu governo, o reino vassalo de Edom começou uma guerra por independência (8.20). O texto de 8.21 não é muito claro, mas parece que o exército de Judá, ao atacar Zair, foi surpreendido à noite pelos edomitas e fugiu. E Edom se tornou independente, o que para Judá representava uma significativa perda de território e de recursos.
Morrendo Jeorão, foi sucedido por seu filho Acazias (8.24), que começou a reinar no ano 12 do reinado de Jorão em Israel. Face ao progressivo encurtamento dos reinados em Judá, a notícia de que Acazias reinou somente um ano (8.26) é alarmante. O texto não esconde o que para ele são as causas disso. Também Acazias, como seu pai, “andou no caminho da casa de Acabe, e fez o que era mau diante dos olhos do Senhor” (8.27). E também ele foi genro de Acabe, o que, incidentalmente, mostra a influência que tinham as mulheres neste regime essencialmente patriarcal. A mãe de Acazias se chamava Atalia (8.26), e ela ainda terá um protagonismo na sequência dessa história. Neste período, os dois reinos, Judá e Israel, estavam se dando bem. Mas isso porque os reis de Judá eram cooptados pelos reis de Israel, um reino maior e de mais influência geopolítica.
Esse tipo de parceria ou colaboração não é visto com bons olhos pela narrativa bíblica. O ideal do reino unido inclui necessariamente a fidelidade à Instrução divina, “fazer o bem diante dos olhos do Senhor”. Andar nos caminhos do rei Davi, e não nos caminhos de Jeroboão e Acabe. É uma situação complexa. Com o passar do tempo, vai se estabelecendo todo um emaranhado de relações pelas mais diversas razões, nem todas marcadas pelo propósito de ser povo de Deus neste mundo, ser bênção a todos os povos da terra. E assim a história segue. O mais admirável não aparece nos textos senão como aquela “voz silenciosa” que os pervade sem ser ouvida por quem tem pressa ou está enleado com “os cuidados do mundo, a fascinação da riqueza e as demais ambições “ (Marcos 4.19).
Dia 349 – Ano 1