Em 2 Samuel 6 temos a continuação da saga da arca de Deus, que em 1 Samuel 4 havia sido tomada pelos filisteus, e que ao fim de várias peripécias tinha ficado na cidade israelita de Quiriate-Jearim (1 Samuel 6.21).
Tendo consolidado seu reino, Davi sonha agora com uma restauração religiosa. Para isso, vai com uma grande multidão até a cidade de Baalim (2 Samuel 6.2), onde a arca se encontrava agora, e festivamente faz subir a arca para Jerusalém (v.3-5). Num incidente no caminho, um homem toca na arca (v.6) e cai morto, ferido pela ira de Deus (v.7). Isso deixa Davi irado (v.8). Com medo, Davi achou melhor não trazer a arca para perto de si (v.9-10), e assim ela fica um tempo na casa de um geteu, Obede-Edom (v.11). O homem acaba sendo ricamente abençoado por Deus, por causa da arca (v.11-12), e então Davi resolve trazê-la para Jerusalém.
Mais uma procissão festiva (v.13-15), e finalmente a arca chega à cidade de Davi (v.16), onde é colocada numa tenda especial (v.17). A festa termina com Davi dando a bênção e comida para o povo (v.18-19). O capítulo termina com uma desavença doméstica entre Davi e sua esposa Mical, filha de Saul (v.20-23).
Chama a atenção um detalhe nesse trecho, que traz como que uma sombra à narrativa. E ele é intencional, pelo jeito com que as palavras são colocadas no texto. No v.7, diz que “o Senhor se irou”. Na sequência imediata, no v.8, diz que “Davi se irou”. O mesmo verbo é usado. Deus se ira porque tem sua santidade profanada. Davi se ira porque Deus se ira.
Dá para sentir um ímpeto desafiador na atitude de Davi. Aos poucos o espírito monárquico vai tomando conta dele também. Um rei não admite nada que seja contra a sua vontade. E quando Deus faz algo que vai contra a vontade do rei, a primeira reação deste é de ira. Davi tinha tudo planejado, investindo numa religião que servisse de suporte ao seu reinado, e agora Deus estraga a festa.
Dia 263 – Ano 1