A sequência da narrativa mostra que várias coisas que aparecem no capítulo anterior expressam mais o desejo e a promessa do que a realidade presente. Isso é uma coisa importante de se constatar nos textos bíblicos. Eles são fala sobre a realidade, sim, mas sobre a realidade como vista com o olhar da esperança. E a esperança tem seu jeito de transformar, já agora, a realidade que vemos.
E é justamente esse olhar da esperança que permite à narrativa bíblica um grande realismo. 2 Samuel 7 começa registrando que Deus havia concedido paz à casa de Davi e ao reino. Em 2 Samuel 8 e nos próximos capítulos nos serão mostradas duas coisas. Primeiro, o preço dessa paz em relação ao reino. Segundo, que a casa de Davi ainda estava longe de viver a paz.
Primeiro, então, o reino. 2 Samuel 8 começa a traçar o “mapa da paz” segundo a política da época. Não se trata ainda de uma paz alcançada por consenso e fraternidade, uma paz duradoura. A paz aqui ainda é fruto do maior poder de uns sobre outros. Mas no momento parece que era o melhor que se poderia alcançar. Davi derrota seus principais inimigos, e apazigua as relações dentro de um reino que vai se estendendo “de rio a rio”: do Nilo ao Eufrates (como Deus tinha prometido a Abraão, Gênesis 15.18; promessa reforçada aos israelitas ao entrarem na terra prometida, Deuteronômio 1.7-8; Josué 1.4).
O presente capítulo diz (v.6) e repete (v. 14) que quem estava por trás de tudo era Deus, dando vitórias a Davi e aos israelitas. Por outro lado, dá espaço para mostrar toda a humanidade dos personagens. Ou, às vezes, sua desumanidade, como é o caso dos v.2-3, onde muita gente morreu simplesmente por medir mais que uma corda. A tônica do capítulo é a expansão do reino de Davi. Os filisteus a oeste (v.1), os moabitas ao leste (v.2), os arameus ao norte (v.3-12). E por fim o domínio sobre o sul, ao conquistar Edom e o Vale do Sal (v.13-14), por onde passava a rota comercial que ligava o norte, desde o rio Eufrates (v.3) com o Egito ao sul, até o rio Nilo.
Dia 265 – Ano 1