Israel era um povo como qualquer outro, mas tinha sido escolhido por Deus e colocado à parte (“santificado”, Deuteronômio 14.2), para que, com ele e através dele, Deus pudesse realizar Seu propósito de reconciliar consigo o mundo.
Para isso o povo tinha que aprender a desaprender alguns dos costumes e da cultura, tanto “secular” como “religiosa”, que trazia consigo. No capítulo anterior falamos sobre a religião que eles estavam aprendendo com Deus: uma religião que privilegia não tanto experiências extraordinárias, mas a harmonia e a integração nas relações da vida diária. Agora esse tema continua. Primeiro se fala de um costume da época. Quando morria um ente querido, em sinal de luto as pessoas se auto-flagelavam (Deuteronômio 14.1). Israel devia saber que, por razões que o texto não deixa claro, esse costume era incompatível com a nova espiritualidade que eles estavam aprendendo. Seguem-se, então, leis sobre as carnes que podiam e as que não deviam ser comidas (14.3-21). Repete-se aí, com algumas variações, o que encontramos Levítico 11.
A última parte do capítulo (14.22-29) fala sobre os dízimos. Aqui se pressupõe que os dízimos dos alimentos eram comidos festivamente no lugar do culto (v.23). Complementações importantes aparecem nos dois capítulos seguintes, que falam do cuidado aos pobres e esclarecem quem participava dessas refeições comunitárias (cf. a lista de 15.11,14).
Um último dispositivo importante era que, a cada três anos, os dízimos deviam ser recolhidos num determinado lugar, onde eles ficariam à disposição dos levitas, dos estrangeiros, dos órfãos e das viúvas (v.29). Como não havia anos fixos, podemos imaginar que a cada ano um terço da população poderia estar recolhendo seus dízimos com esse propósito.
Providências relativamente simples, como estas, poderiam minimizar um dos mais graves problemas sociais, a pobreza, o que será o tema do próximo capítulo.
Dia 165 – Ano 1