Deuteronômio 15, quando trata da pobreza, deixa aberto um flanco que não podemos deixar de perceber. Sua perspectiva é de resolver o problema internamente, dentro da comunidade israelita, sem se importar muito em que a conta seja paga pelos povos vizinhos (cf. 15.2-3,6). Naquele momento da narrativa bíblica, provavelmente este era o caminho viável. Mais tarde, porém, quando os israelitas já estavam bem estabelecidos, novas medidas deveriam ser tomadas. Sobre isso ainda falarão os profetas, que têm muito a dizer sobre estas questões.
Num mundo de consciência global como o nosso, devemos buscar soluções que sejam compatíveis com essa ampliação dos espaços privados. Não só no ecossistema natural é assim que, “quando uma borboleta bate asas no Pacífico, um ciclone pode se formar no Atlântico”. Isso vale hoje também para os ecossistemas econômicos e sociais.
Dentro desse marco, porém, é importante que cada nação trabalhe os problemas internamente, com os recursos de tradição religiosa e cultural de que dispõe. Isso Deuteronômio 16 quer ajudar os israelitas a fazer. Três vezes ao ano, haveria uma grande festa nacional. Tempos de alegria e celebração (16.11,14,15). Tempos de congrassamento e de reforçar os laços de solidariedade (v.11,14). Tempos de rememorar a tradição onde se tem suas raízes (v.3,6,12). Tempos de renovar a relação com Deus, a base mais fundamental (v.8,10,16-17).
Entre esses tempos festivos, esses tempos maiores que marcam e reforçam a identidade nacional de um povo, são os liames estabelecidos no cotidiano que dão estabilidade e humanidade a uma política nacional. Fundamental é a prática de um direito em que a justiça seja o fator mais relevante e absoluto (v.18-20). Esquecimentos e desvios aí podem pôr a perder tudo o mais (que alerta para a nossa realidade atual!).
Que tudo isso está, finalmente, ancorado no cuidado para com a dignidade divina, em deixar Deus ser Deus (v.21-22), também precisa ser dito sempre de novo.
Dia 167 – Ano 1