No capítulo anterior se falou de princípios norteadores das leis que fazem parte da Instrução pela qual Deus visava capacitar os israelitas a uma vida mais humana, a buscar uma sociedade mais igualitária e com justiça. Deuteronômio 23, à primeira vista, parece desmentir isso. O capítulo começa (23.1-8) nomeando pessoas e grupos que devem ser excluídos das assembleias religiosas. Assembleias que são justamente, ou deveriam ser, o lugar onde as pessoas deveriam se sentir aceitas e incluídas, sem qualquer tipo de discriminação.
Desse tema sensível e delicado, se passa direto para orientações que têm a ver com saúde pública: o cuidado com as fezes num acampamento a céu aberto (23.9-14). Na sequência (23.15-25), aparecem várias questões pontuais: a proteção a escravos fugitivos (v.15-16), a proibição da prostituição, tanto feminina quanto masculina (v.17-18), a proibição de cobrar juros dos compatriotas (v.19-20). Nesses últimos dois casos, as leis discriminam entre israelitas e não-israelitas. Parcimônia no comer das plantações dos vizinhos (v.24-25) e o cuidado com a coerência entre palavra e ação (v.21-23) são os últimos temas do capítulo.
Já as leis do cap. 24 se mostram mais consistentemente humanitárias. O divórcio, permitido em Israel, tem uma de suas facetas regulamentada (24.1-4). Os textos bíblicos muitas vezes olham para as questões de mais que um lado, o que em questões complexas é importante. Assim, mais tarde leremos sobre o profeta Oséias, que recebeu de volta a esposa que lhe tinha sido infiel, em flagrante contraposição a esta prescrição.
O trecho de 24.5-22 aborda diversas questões com potencial de tensão e conflito, sempre buscando saídas que espelhassem, dentro das possibilidades, a igualdade e a justiça de que falamos. O cuidado com os mais fracos na sociedade é uma das tônicas (do v.10 em diante).
Uma exortação, repetida, se sobressai: “Lembra-te” (v.9,18,22). Ela é significativa porque recorda situações em que os próprios ouvintes estiveram na condição de mais fracos.
Dia 173 – Ano 1