Depois da conquista das terras de Siom, rei de Hesbom, aqui é narrada a conquista das terras de Ogue, rei do Basã (Deuteronômio 3.1-11). As duas regiões ficavam no lado oriental do rio Jordão, na região conhecida como Transjordânia. As vitórias sobre esses dois reis acabaram virando, no imaginário israelita, símbolos da presença poderosa de Deus junto ao Seu povo (como podemos ver em vários salmos; por exemplo, Salmos 135.10-12; 136.17-21).
Toda esta faixa de terra acabou sendo dividida entre uma parte das tribos israelitas, que optou por fazer ali o seu futuro (3.12-22). E foi dali, de um dos picos mais altos daquela região montanhosa, que Moisés pôde ver de longe a terra em função da qual ele vivera tantos anos (3.23-27). Também nisso ele se associa àquelas antigas testemunhas que viveram e morreram “na fé, sem ter obtido as promessas, vendo-as e saudando-as de longe” (Hebreus 11.13). A liderança do povo vai sendo passada a Josué (3.21-22, 28-29). Este devia tirar fé e coragem do que ele tinha visto, do que Deus tinha feito a aqueles reinos que eles derrotaram (v.21).
Estes são lugares na Bíblia em que a ação humana e a ação divina são identificadas a tal ponto que fica difícil distinguir uma da outra. E assim carnificinas, onde muitos inocentes são mortos, podem acabar sendo atribuídas à ação direta do próprio Deus. Quem lê a Bíblia hoje não pode deixar de perceber essas questões. Por outro lado, o simples fato de elas estarem na Bíblia já é parte de seu encaminhamento. Elas nos obrigam a pensar, a discutir, a sondar os textos bíblicos, para ver se em outros lugares eles nos dão pistas de como poderíamos enxergar de outros jeitos tudo que aí está envolvido.
O coração de Deus em relação a isso tudo se mostrou mais claramente na cruz, onde Jesus Cristo morre a morte do ser humano, carregando sobre si “a iniquidade de nós todos” (Isaías 53.6). Enquanto isso, e até que isso possa ficar mais claro, Deus vai mostrando Seu coração na caminhada, aos poucos, “tudo sofrendo, tudo crendo, tudo esperando, tudo suportando” (1 Coríntios 13.7).
Dia 154 – Ano 1