Deuteronômio 32 traz a canção que Deus deu a Moisés e lhe pediu que a ensinasse ao povo. Canções não são tanto para ser analisadas minuciosamente, mas para ser cantadas, com o sentimento e a emoção que faz parte disso. Compreender racionalmente as suas palavras, embora importante, ainda não significa ter captado a sua essência. Isso passa pelo corpo todo. A falta de percepção disso tem sempre de novo gerado uma fé intelectualizada, sem força vivencial para realizar o que a mensagem bíblica prevê que se realize bem no fundo do coração.
A canção celebra, em linguagem poética, o duplo aspecto da Palavra bíblica. Ela celebra o amor, a bondade e a fidelidade de Deus (32.4,10-12,36). E canta tristemente as mazelas que resultam da da falta de caráter e da infidelidade do Seu povo (v.5,15,28).
A linguagem é dramática e apaixonada, de forma apropriada ao conteúdo, dramático e apaixonado. As metáforas usadas são cheias de sentimento. A Palavra de Deus é como orvalho no deserto (v.2). Ela nos solicita a rememorar nossa história. E essa história começa bem longe. Num mundo como o nosso, com memória curta, é importante saber que nossa história começa lá no começo, quando Deus planejava como seriam as coisas na terra que Ele criaria (v.7-8).
O povo de Sua escolha (v.9) foi, mais tarde, encontrado por Ele numa terra deserta (v.10). Feliz, Ele cuidou deles (v.11-14). “Guardou-os como a menina dos Seus olhos” (v.10). Carregou-os sobre asas como de águia (cf. Êxodo 19.4). Alimentou-os, criou-os. Mas o amor não foi correspondido. Não só. Amaram a outros deuses (v.16-17). Quando tudo estava bem com eles, se deixaram levar pelo seu bem-estar. E sofreram as consequências de suas escolhas e atitudes.
Mas a própria existência dessa canção é sinal de esperança. Esperança de que o Deus “que mata e faz viver, que fere e que sara” (v.39), quer sarar e fazer viver! Longe de ser vazia, essa Palavra de Deus é a nossa vida (v.47). Por isso também nós, hoje, a lemos sempre de novo.
Dia 182 – Ano 1