Já vimos como é importante perceber a relação entre os mandamentos e a libertação. Deus tirou Seu povo do Egito, onde ele estava oprimido e escravizado. Para quê? Só para levá-lo para dentro do deserto e colocá-lo sob um novo tipo de opressão e escravidão? Nesse momento da narrativa, quando ouvimos a recitação dos Dez Mandamentos, estas questões querem ser refletidas e meditadas.
A relação do ser humano com a lei sempre tem uma tendência a se tornar legalista. Como consequência, a lei passa a oprimir e escravizar. Mas não precisa ser assim. Ao colocar as leis na continuação do evento da libertação, a narrativa bíblica nos deixa uma mensagem: a lei divina quer continuar e aprofundar o processo de libertação.
O povo havia sido liberto da escravidão sócio-política no Egito. Grande passo. Absolutamente fundamental. Mas não é tudo. O processo iniciado deve continuar. Em duas direções. Primeiro, é preciso assegurar que novas escravidões sócio-políticas não voltem a acontecer. Segundo, há uma escravidão da qual os libertados ainda não estão livres: é a escravidão a si próprios. A escravidão de um ser humano “voltado para o seu próprio umbigo” e fazendo o mundo todo girar em torno dele. Nessa condição, o ser humano pode causar muita destruição ao seu próximo e à natureza, e com isso também a si próprio.
Este ser humano, que, se tiver oportunidade, oprimirá e tentará escravizar os outros para que sirvam às suas ambições. É este ser humano que Deus quer educar, amorosamente, para que aprenda a ser, não o opressor, mas o cuidador do próximo e da natureza. Foi com esse propósito que Deus deu os mandamentos: para preservar a frágil liberdade recém alcançada, para fortalecê-la e aprofundá-la, deixá-la criar raízes fortes e profundas nas pessoas e nas formas de organização social. Os mandamentos querem nos tirar da nossa escravidão a nós próprios, e nos tornar cuidadores do nosso próximo e de sua liberdade.
Dia 73 – Ano 1