O trecho de hoje é o primeiro de uma série em que encontramos leis de todo tipo, que funcionavam como parâmetros de organização e julgamento na vida do povo. Se trata de uma sociedade oriental antiga, muito diferente das nossas sociedades modernas. Os detalhes revelam preocupações com pequenos aspectos do cotidiano das pessoas.
Essas leis não estão aí para serem transplantadas direta e literalmente para o nosso tempo e a nossa sociedade. Não é assim que elas colaboram no processo pedagógico divino de que fala a narrativa bíblica. Assim elas até poderiam atrapalhar este processo. Temos que tentar olhar por baixo da superfície dos textos, e perceber o movimento subterrâneo que os anima e preside. Muitas vezes este movimento subterrâneo é difícil de ser percebido. E algumas coisas na superfície do texto parecem estranhas desde os nossos parâmetros, adquiridos posteriormente ao longo da história.
Alguns destes nossos parâmetros são desvios motivados pelos maus impulsos do coração humano (cf. Gênesis 8.21). Já outros são, eles próprios, resultado da história começada ali no êxodo, e que se estende por todo o Antigo Testamento e depois pelo Novo, e chega até nós. Parte de nossa sensibilidade diferente, hoje, para com algumas questões humanas e sociais que afloram nestas antigas leis, resulta do mesmo processo que as anima.
É importante que procuremos perceber nestas leis o espírito que tenta se expressar nelas, que é o do amor de Deus pela humanidade e pelo mundo que Ele criou, e Seu desejo de que esta humanidade e este mundo reflitam a beleza e a generosidade que está na sua origem. Assim, também, evitaremos um legalismo literalista e destrutivo. É isso que o apóstolo Paulo quis dizer, mais tarde, ao falar sobre o jeito de ler estas leis: “a letra mata, mas o espírito faz viver” (2 Coríntios 3.6).
Dia 74 – Ano 1