A “história da descendência de Noé”, iniciada em Gênesis 6.9, vai até 9.29. Termina com umas palavras de maldição e bênção que têm dado o que falar (Gênesis 9.24-27). Um episódio envolvendo os três filhos de Noé leva este a proferir bênção sobre dois deles, Sem e Jafé, e maldição sobre o filho do terceiro (Canaã, filho de Cam). A interpretação deste pequeno trecho da Bíblia já causou muito infortúnio. Sem é identificado com os povos semitas, Jafé com povos europeus. Cam e seu filho Canaã são identificados com os povos negros da África, marcados para serem escravos de seus irmãos. Até hoje se tem tentado justificar por esse texto tanto a escravidão como uma suposta superioridade racial de povos brancos em relação aos negros. Se já não fosse historicamente questionável, tal interpretação não tem como se sustentar diante da clara palavra de Paulo (Gálatas 3.28), de que em Cristo “não há mais nem escravo nem livre, nem homem nem mulher; todos são um”.
Gênesis 10 começa a “história da descendência dos filhos de Noé” (10.1) com uma lista destes povos antigos. É uma espécie de mapa mundi dos antigos israelitas. A divisão entre os descendentes de Noé acabou levando a um esquecimento: que a Bíblia vê os povos da terra como descendentes do Humano (Adão e Eva). Laços de irmandade ligam toda a humanidade. Mas os textos bíblicos não escondem que uma “inclinação dos humanos para o mal” (Gênesis 8.21) sempre de novo porá em risco essa vinculação existente entre todos os humanos no coração de Deus. Mas também mostram como Deus não nos abandona à nossa própria sorte.
Dia 19 – Ano 1