Este longo capítulo é um exemplo primoroso de arte narrativa na Bíblia. E um monumento de humanidade e de espiritualidade, tudo ao mesmo tempo. A história começa com uma dupla decisão de Abraão. Primeiro, de não casar seu filho com uma das jovens do lugar, mas buscar para ele uma mulher no distante círculo familiar de origem. Segundo, de não deixar que o próprio Isaque fosse para lá, arriscando-se a não voltar mais. Parece que Abraão já tinha percebido que algo queria impedir a ele e sua família de permanecerem na terra da promessa.
O servo de Abraão, que em Gênesis 15 é chamado de Eliezer, o damasceno, é enviado para essa delicada missão. A longa viagem é descrita sumariamente (Gênesis 24.10), levando direto à cena ao lado de um poço, na entrada da cidade onde morava Naor, irmão de Abraão. Ali Eliezer coloca sua missão na mão de Deus, pedindo um sinal concreto e específico (v.12-14). Nem tinha terminado de falar, e eis que aparece Rebeca, neta de Naor (celebrada em prosa e verso pelo narrador, v.16), para tirar água do poço (v.15). A narrativa vai intercalando diálogos demorados com ações rápidas e direto ao ponto. A história é envolta numa espiritualidade que transparece. Também Rebeca e seus familiares reconhecem a mão de Deus guiando os acontecimentos (v.50,51).
O servo retorna, trazendo Rebeca (v.61). A cena é imediatamente transferida para o lugar onde se encontra Isaque (v.62-63). E assim Isaque foi consolado pela perda da mãe (v.67). Em meio à maldade humana, que a narrativa bíblica não esconde, floresce uma beleza que faz lembrar o paraíso e não deixa morrer o sonho.
Dia 32 – Ano 1