O processo de criação do ser humano é completado quando Deus decide que a melhor forma de parceria para ele seria tornar o princípio feminino uma pessoa à parte. E assim dividiu-o em dois. A palavra hebraica tselá pode ser traduzida como “costela”, mas seu sentido básico é “lado”. O Criador tirou um dos lados, e dele fez uma ishá (“mulher”), companheira do ish (“homem”). Cada um uma pessoa completa, mas tendo registrada em seu ser a memória de sua unidade original.
Na aventura da vida, geração após geração, ambos se buscam e se apegam um ao outro. Quando o texto diz “e se tornam uma só carne”, isso significa bem mais que o ato sexual. Este é expressão de uma busca por uma conjunção de vida, um restabelecimento da unidade original da criação. A palavra daváq, “apegar-se”, caracteriza na espiritualidade judaica a relação do ser humano com Deus. A relação de seres humanos formando uma unidade que se torna símbolo da relação do ser humano com Deus. E também a relação do ser humano com os animais não deveria passar despercebida ao lermos este texto. A vocação de parceria entre os humanos caracteriza também a relação entre os animais e o ser humano, como vimos em Gênesis 2.20.
“E estavam ambos nus, o homem e sua mulher, e não sentiam vergonha” (2.25). Nudez aqui é uma transparência completa de um para com o outro, parte da condição original do ser humano, expressão de uma corporalidade luminosa e transparente que mais tarde viriam a perder.
Dia 8 – Ano 1