O ser humano revela a suscetibilidade de desejar ser “igual a Deus”: dono do Jardim, submetendo-o aos seus propósitos e não aos de Deus. A distância do Criador que com isso se cria é dolorosamente expressa em Gênesis 3.8-9. O ser humano agora se esconde da presença de Deus, que mesmo sabendo disso continua a procurá-lo: “Onde estás?”
Gênesis 3.22 mostra o Criador em diálogo com os seres espirituais à sua volta. “O ser humano se tornou como um de nós, conhecedor do bem e do mal”, constata. Para impedir que os humanos se perpetuassem nessa condição e submetessem o Jardim aos seus propósitos agora revelados como potencialmente distintos dos do Criador, eles são mandados embora. O Jardim do Éden agora lhes fica inacessível, fortemente protegido.
O texto bíblico mostra claramente as consequências do gesto humano de ultrapassar o limite divino. Elas atingem a própria constituição do ser humano. A corporalidade transparente agora lhes causa vergonha, porque nada esconde. Mas agora, subitamente, os humanos querem se esconder. Dos outros, de Deus, de si próprios. Assim, num gesto de solidariedade, o Criador lhes reveste a corporalidade luminosa com uma nova. “E o Senhor Deus fez para o homem e sua mulher mantos de pele, e o revestiu” (Gênesis 3.21). “Mantos de pele” é cotnôt ôr, que faz um jogo de palavras entre “pele” e “luz”. A luz própria da corporalidade humana é revestida de “pele”, que significa aqui o corpo químico-físico carnal que temos hoje, apropriado para a existência fora do Jardim, “ao leste do Éden”, que os humanos terão na narrativa bíblica a partir de agora.
Dia 12 – Ano 1