Várias profecias começam com uma palavra, massá, que significa “carga”, palavras pesadas tanto para quem elas são dirigidas como para os profetas chamados a enunciá-las. Em Isaías 13.1 — 14.23 temos uma profecia sobre Babel, a Babilônia. Várias das imagens e palavras são as mesmas antes usadas para os israelitas e para os assírios. Com isso o Livro de Isaías quer mostrar que há uma continuidade histórica que pode até nem ser percebida como tal pelas pessoas, grupos e povos que nela tomam parte. Onde nossa visão é limitada, tendendo a ver as coisas isoladas, desconectas, o profeta é levado, no Espírito, a perceber uma continuidade radicada na presença de Deus em meio à história humana.
Babilônia não havia sido mencionada explicitamente até esse momento na narrativa do Livro de Isaías, que até aqui havia se concentrado nos assírios. Historicamente, os babilônios serão os principais responsáveis pela queda do império assírio e formarão eles próprios um novo império. Este, por sua vez, quando chegar o momento de sua própria decadência, cederá espaço para um novo poder regional, “os medos” (Isaías 13.17). O Deus de Israel os chama aqui de “os meus consagrados”, “os meus valentes”, chamados por Ele para darem vazão à Sua indignação (13.3; 13.5). Contra a Babilônia (13.18), que teve tempo de formar um império, espalhou maldade (13.11) e agora vê chegado o momento da prestação de contas. Como aconteceu com Judá (Isaías 1.7), também Babel verá uma catástrofe como a que destruiu Sodoma e Gomorra (13.19). Esse tempo de guerra e grande comoção é chamado pelo profeta de “o dia do Senhor” (13.9), uma expressão que sempre de novo vai aparecer na profecia bíblica.
Tal como havia acontecido com os assírios antes deles (Isaías 10.5-34), também os babilônios não perceberam que haviam sido instrumentos do julgamento divino. A experiência do poder lhes subiu à cabeça e os levou a “ferir os povos com furor”, a dominar com crueldade e opressão (14.6). Tiveram o seu momento de “fazer estremecer a terra, e tremer os reinos” (14.16-17). Mas sua própria maldade e soberba os subverteu. Em seu coração eles subiriam ao céu, colocariam seu trono acima das estrelas, governariam ao lado dos deuses, “serei como o Altíssimo” (14.13-14). Mas em vez de subir ao mais alto, serão derrubados ao mais baixo (14.15).
A perspectiva profética percebe nos acontecimentos históricos padrões que transcendem o próprio tempo histórico. O governante soberbo e prepotente de que o texto trata aqui, será combatido e sucedido por outro governante prepotente. E assim por diante. Não por nada a tradição verá neles manifestações de poderes cósmicos com grandes pretensões. Seu poder e majestade, que são reconhecidos no texto, os levam finalmente à destruição. “Como caíste do céu, estrela da manhã, filho da alvorada!” (14.12). E assim eles se tornam personagens que de tempos em tempos, com maior ou menor poder, emergem na história. Até que um dia talvez surja um com máxima potencialização, e esse ciclo leve ao seu próprio rompimento.
Dia 34 – Ano 2