Depois de ter dado um salto para frente no tempo e falado dos babilônios, que destruirão o poder assírio, a profecia volta e de novo fala da Assíria (Isaías 14.24-27). Mas só para ressaltar um princípio que rege a história. “Como pensei, assim sucedeu. Como determinei, aconteceu” (14.24). “Pois o Senhor de todos os seres determinou. Quem poderia impedir?” (14.27). Volta aqui o tema do “braço levantado”, pronto para a ação. Só que agora não mais contra os israelitas, mas contra as nações, contra “toda a terra” (14.26).
Isaías 14.28-32 é uma breve e enigmática profecia contra os filisteus. O “ano da morte do rei Acaz” foi o ano em que Isaías recebeu o chamado para ser profeta. Os filisteus foram momentaneamente aliviados de sua opressão (“a vara que te feria”), mas já se avizinha um ataque “do norte”, provavelmente os assírios. Governantes prepotentes, e candidatos a tais, sempre estarão à espreita (14.29). O porto seguro vislumbrado na profecia é Sião, que é mais que a Jerusalém histórica, é o lugar em que a terra se conecta com o céu. Ali “os primogênitos dos pobres serão pastoreados, os necessitados se deitarão seguros” (14.30).
Isaías 15 e 16 traz profecias relacionadas a Moabe, um povo vizinho, no outro lado do rio Jordão. As relações entre Israel e Moabe passaram por diversas fases, quase sempre tensas. A tradição faz dos moabitas descendentes de Ló, sobrinho de Abraão (Gênesis 19.30-38), portanto parentes dos israelitas. O tema aqui é uma invasão inimiga que obriga os moradores a fugir. O cenário é desolador (Isaías 15.1-4). Em linguagem profética, a causa é identificada como altivez, arrogânca, prepotência (16.6), tal como havia sido detectada e acusada também em Jerusalém, na Assíria e na Babilônia.
Em um trecho um tanto enigmático (16.1-4), Judá é solicitada a receber refugiados de Moabe (16.4). Várias vezes israelitas tinham buscado refúgio em Moabe, como vemos por exemplo no Livro de Rute. Aparentemente havia esperanças de um futuro em que ambos os povos estariam sob um governo cujo trono estaria na “tenda de Davi”, um governo firmado em amor e verdade, marcado pelo direito e pela justiça (16.5).
As relações ideais entre israelitas e moabitas são vividas pelo próprio profeta, quando reverbera a dor dos moabitas. “Meu coração grita por Moabe” (15.5). O choro dos moabitas tem eco no seu choro solidário. As lágrimas do profeta regam a terra que já não dá seu fruto (16.9). No seu íntimo ele sente e geme por esse povo. A ressonância entre o coração do profeta e os corações humanos é expressão da verdadeira profecia. Que não é só transmissão de palavras divinas, mas encarnação do coração de Deus.
Dia 35 – Ano 2