“Nos últimos dias” (Isaías 2.2), ou seja, no futuro que desde o passado está sendo gestado em nosso presente, o “monte da casa do Senhor” estará firmado “no topo dos montes”. Uma cena difícil de imaginar. O monte do Templo é o Sião, em Jerusalém. Em termos quantitativos ele não é mais que um pequeno morro dentro de uma cidade. Certamente não é a montanha mais alta do mundo. A linguagem aqui é figurativa, não no sentido de “não real”; bem pelo contrário, imagens podem ter um caráter expressivo maior do que as lógicas convencionais, quando se trata de descrever o que transcende nossa experiência imediata do mundo.
Antigamente os montes eram a morada dos deuses. Quando o monte Sião é colocado no topo dos montes, isso significa que o Deus que ali habita é o maior dos deuses. “No topo dos montes, mais alto que as elevações” (2.2). Nas elevações se encontravam os santuários. A imagem aqui desafia as estatísticas. Já a relevância teológica, é imensa. E logo vem outra imagem acoplada a essa, e que igualmente resiste às nossas categorias normais. “E a ele fluirão todos os povos”. Se pudermos imaginar rios correndo para cima, é isso. Os rios são os povos da terra, que aqui fazem o movimento inverso ao do jardim do Éden. De lá saía um rio que se abria em quatro e abraçava toda a terra (Gênesis 2.11-14).
As nações virão e dirão: “Venham, subamos ao monte do Senhor, à casa do Deus de Jacó” (2.3). O que as atrai é um dos desejos mais profundos da humanidade. “E aprendamos dos Seus caminhos, para que andemos em Suas veredas”. O Deus de Israel é o Deus das nações. Israel existe para ser mediador do cuidado e da bênção divina para toda a humanidade. Para isso o Senhor o separou dos povos separados entre si pelo pecado, para que aprendesse a Instrução e seus caminhos de reconciliação e solidariedade. “Pois de Sião sai a Instrução, de Jerusalém a Palavra do Senhor”. Sião e Jerusalém representam essa humanidade espiritualmente reunida.
“E exercerá o Direito entre os povos, e repreenderá a muitas nações” (2.4). A Instrução, a Palavra, se expressarão aqui na forma de um Direito internacional válido para os povos e as nações. As consequências revelam bem o caráter humanitário e dignificante que sempre advém da Palavra de Deus devidamente compreendida. “De suas espadas forjarão lâminas de arado. De suas lanças, podadeiras. Um povo não levantará espada contra outro povo. E não mais aprenderão a fazer guerra” (2.4). Essa passagem é repetida em Miquéias 4.1-3. Se prestarmos atenção veremos que ela percorre, como um rio subterrâneo, toda a narrativa bíblica.
O fato de essa passagem bíblica ter sido escolhida como um lema para a ONU, a Organização das Nações Unidas, diz muito. Claro que isso pode ser utilizado ideologicamente. Como também um Sião e uma Jerusalém no topo do mundo. Faz parte do projeto pedagógico de Deus que isso tudo não seja imposto, mas aprendido, talvez a duras penas, nos processos históricos. Temos a promessa, deixemos que ela nos alimente a esperança.
Dia 12 – Ano 2