Isaías 24.7-23

Isaías 24.7-23

Isaías 24.7-13 aproxima o foco e nos deixa ver com mais detalhes como a terra “chora” e “murcha” (24.7), e como isso afeta o mundo dos humanos Chora o vinho, murcha a videira. Em vez de alegria, gemido. Dança, música, festa, tudo acabou. “A alegria anoiteceu, o prazer foi banido” (24.11). A cidade que uma vez já tinha sido “cidade de justiça” e que virou prostituta (Isaías 1.21) agora é “cidade do nada” (24.10), vazia (24.1). É como se o mundo tivesse revertido à condição do “nada vazio” de antes da criação (Gênesis 1.2). Talvez sobre algo, mas é tão pouco que não será levado em conta (Isaías 24.13).

Em meio a essas visões desoladoras, o profeta é levado a um plano em que ele vê um grupo não identificado que, “do mar”, já não geme mas ergue a voz e celebra a majestade divina. E como que em coro, fazendo eco, “no oriente” glorificam o Senhor, nas “terras do mar” (no ocidente) exaltam o Seu nome. “Dos confins da terra ouvimos cânticos: “Glória ao Justo!” (24.14-16). Essas mudanças súbitas de cenário e de perspectivas, sem qualquer explicação, podem deixar leitores como nós perplexos. Mas talvez essa seja uma das coisas que podemos aprender com esses textos. Percepções cujo encadeamento pode ser distinto, e talvez mais profundo que o nosso pensamento linear, podem nos impactar ao seu modo.

O louvor e a glória logo ficam de lado. “Estou pasmo! Estou pasmo! Ai de mim!” (24.16). No afã de tentar dizer o que está vendo, vai amontoando palavras: bogdím bagádu, bégued bogdím bagádu (“traidores traem, traição, traidores traem”). Fáhad, fáhat, fáh (“terror, cova, armadilha”) “sobre ti, habitante da terra”. Quem escapar de um, é apanhado no outro (24.17-18). Referências lhe vem de passagens bíblicas: “Janelas do alto se abrem” (como no dilúvio, Gênesis 7.11), “tremem os fundamentos da terra” (como em Salmos 18.7). A palavra “terra” é pronunciada três vezes, como que não querendo acreditar que algo assim possa estar acontecendo: “A terra está quebrando, a terra está rasgando, a terra treme de alto a baixo” (Isaías 24.19).

“Sua culpa pesa sobre ela” (24.20), por isso a terra está afundando. Nesse cenário apocalíptico o olhar do profeta é dirigido, primeiro para o céu e depois para a terra. Os seres celestes e os reis da terra são cobrados e punidos (24.21-22). Até a lua e o sol estarão perplexos. E então ouve-se um anúncio: “Porque o Senhor de todos os seres reina no monte Sião e em Jerusalém” (24.23). 

Tudo que o profeta viu e tentou descrever nesse trecho são sinais que acompanham a “vinda” de Deus e o julgamento que a acompanha. O louvor e a glória, antes ouvidos, não se perderam. Ficaram ao fundo. E agora ressoam sem mais impedimentos. “E os Seus anciãos são rodeados de glória” (24.23). Anciãos são o conselho de governo. A glória que os cerca faz pensar num governo justo que, depois de tanta catástrofe, reabilite a terra e os seus habitantes.

Dia 45 – Ano 2