“Naquele dia”, o dia do banquete dos povos (Isaías 25.6-8) “se dirá: Vejam, o nosso Deus, Aquele por quem estávamos esperando! Ele nos salva. Este é o Senhor, por quem estávamos esperando! Festejemos, alegremo-nos em Sua salvação” (25.9). Cada palavra aqui é preciosa. Começando por quem diz. Não se trata de uma pessoa ou outra dizendo isso ou aquilo. É palavra coletiva, é palavra de todos, naquele dia “se dirá”.
Os povos reunidos no banquete do Sião dizem: “Vejam, o nosso Deus”. É possível que muitos que chegaram para a festa tenham aprendido a chamar Deus por algum nome peculiar à tradição na qual foram ensinados. Se essa tradição é mais certa ou menos certa, não é a questão aqui. A questão é que o Deus verdadeiro, o Criador dos céus e da terra, se expressa dentro dessas tradições o suficiente para que, quando O vissem, O reconhecessem.
“Aquele por quem estávamos esperando”. É possível que essa esperança nem fosse muito consciente, no sentido de esperar e saber que se está esperando. Pode bem ser algo mais profundo. Como definir a esperança? Sabemos da esperança quando encontramos “Aquele por quem estávamos esperando” mesmo sem saber que era Ele a quem esperávamos. “Este é o Senhor, por quem estávamos esperando!”. No Deus que nos convida para a festa do reino no monte Sião, reconhecemos o Deus de Israel. Reconhecemos no Deus de Israel o Senhor de todos os seres, o nosso Deus. “Ele nos salva”. Por isso, “festejemos e alegremo-nos em Sua salvação!”.
O mistério da salvação tem a ver com o mistério do ser humano. Feito à imagem de Deus, o ser humano carrega em si a liberdade, a auto-determinação que faz parte dessa imagem. Mesmo quando por suas escolhas e decisões ele se deixa escravizar por si próprio ou pelo mundo ao seu redor. No nosso texto, essa liberdade que se deixa escravizar é representada por “Moabe”, um povo vizinho dos israelitas, parentes inclusive. “A mão do Senhor descansará” no monte Sião (25.10), depois de ter sido erguida contra o Seu povo e contra os povos, como vimos até aqui no Livro de Isaías. E Moabe “será pisoteado” como se pisava os grãos e a palha. Tentará se salvar por suas proprias forças (como o nadador abre os braços para nadar e não se afogar), mas será abatido em seu orgulho quando perceber a ineficácia do seu gesto (25.11). “E a fortaleza dos teus altos muros se mostrará fraca e cairá, se espatifará no chão até se tornar pó” (25.12). Uma palavra dura, contrastando fortemente com a festa da salvação. Significativo é que o texto não atribui a derrocada de Moabe diretamente a Deus. É por sua orgulhosa auto-determinação que Moabe “voltará ao pó”.
Dia 49 – Ano 2