“Naquele dia” canções falarão de duas cidades. Uma é a que é “cidade forte para nós”. Por obra divina, seus muros e acessos nos deixarão a salvo (Isaías 26.1). “Levantem, portões, as vossas cabeças! Levantem, portais eternos, para que entre o Rei da Glória!”, diz a conhecida canção (Salmos 24.7). A Ele “pertence a terra, e tudo que nela existe, o mundo e os que nele habitam”, diz a mesma canção (Salmos 24.1). O Rei da Glória vem acompanhado por grande cortejo. “Quem pode subir ao monte do Senhor?”, pergunta o porteiro (Salmos 24.3). A resposta vem do arauto: “Quem é limpo de mãos e puro de coração, e não entrega sua alma à falsidade” (Salmos 24.4).
Em Isaías 26.2 os participantes do cortejo são chamados de “povo justo, que preserva a fidelidade”. Deus é louvado por guardar em paz os “de disposição firme” (Isaías 26.3). A palavra iétser sinaliza uma disposição interior das pessoas, uma espécie de movimento que propulsiona em determinada direção os pensamentos, a vontade, os sentimentos. Os humanos são vistos como tendo uma disposição boa (iétser tôv) ou má (iétser rá). Mas não há um determinismo natural ou hereditário (fulano é bom, beltrano é mau, e ponto). Há um momento na narrativa bíblica em que o Criador, que “sonda mentes e coração”, abre Seu coração a este respeito: “E o Senhor viu que era grande a maldade do humano na terra, e que toda pulsão (iétser) dos pensamentos do seu coração era um só mal todo o dia. E o Senhor lamentou ter feito o humano na terra, e isso lhe doeu no coração” (Gênesis 6.5-6). E o texto não esconde que “a maldade do humano na terra” traz consequências destrutivas para toda a terra (em seguida veio o dilúvio).
Mas a Bíblia conhece também a possibilidade de mudança profunda no coração humano. Quando a pessoa reconhece o seu pecado, a “má disposição” que a move, e suplica à misericórdia divina que ela seja lavada, purificada, apagada (Salmos 51.1-3), e que no lugar dela Deus crie um coração puro, um espírito inabalável (Salmos 51.10), um dos grandes propósitos da narrativa bíblica começa a ser alcançado. Que essa “disposição boa” seja mantida firme, é o que se deseja aqui em Isaías 26.3. Pois com ela vem paz, a paz que resulta da confiança em Deus.
“Confiem no Senhor!”, a “Rocha eterna” (26.4). Quem busca segurança em rochedos outros, será derrubado. Toda “cidade elevada” que nós pudéssemos construir será derrubada e virará pó (26.5, lembrando os “moabitas” de 25.10-12). Mais uma vez ressoa o tema profético: “Se não confiarem, não ficarão firmes” (Isaías 7.9).
Dia 50 – Ano 2