Isaías 26.20-21

Isaías 26.20-21

As palavras de Isaías 26.14-19 nos levam a sonhar. Mas agora, de volta ao presente. “Vai, povo meu, entra no mais interior da tua casa e fecha as portas atrás de ti. Te oculta por um momento, até que tenha passado a indignação” (Isaías 26.20). O povo que sonha com a vida e a ressurreição tem que saber sua parte nesse projeto divino. Na visão de Isaías, como temos visto, faz parte dessa parte aprender a confiar e esperar. Há um movimento divino, chamado de “indignação”, que está em andamento e precisa ser concluído.

“Pois, vejam: o Senhor sai do Seu lugar para fazer com que a maldade dos moradores da terra recaia sobre eles” (26.21) E essa maldade dos humanos não fica em abstrato, é logo explicitada. “E a terra deixará visíveis os seus sangues, não mais encobrirá os seus assassinados”. Todo sangue derramado sobre a terra pode ser momentaneamente encoberto, mas não é esquecido. A terra não esquece as violações da aliança que o Criador fez com ela e com toda a vida nela (Gênesis 9.13-15). Em Sua aliança com a terra, nos dias de Noé, Deus assume o compromisso de preservá-la. Há uma contrapartida que nem sempre é notada: a proibição de derramar sangue inocente sobre esta terra (Gênesis 9.5-6). Quando isso acontece, a culpa desse sangue não se apaga, ela fica guardada no seio da terra. Isaías 26.21 fala de um dia de ajuste de contas, quando o Criador pede à terra que revele os assassinatos nela cometidos.

O povo de Deus é instado, nesse momento, a retirar-se (26.20). O que acontece nesse momento em que o povo de Deus “não faz nada”? Essa pergunta é de fundamental importância para a compreensão tanto do seu ministério como de sua espiritualidade. As portas de Sião que se abrem para “os de disposição firme” (Isaías 26.2-3) têm aqui um paralelo: as portas do interior da nossa casa, para onde o povo de Deus é chamado a se recolher, e esperar em Deus. Esperar em Deus, porém, não é passivo. Quando Jesus fala de entrar no quarto e fechar a porta, é para orar (Mateus 6.6). Quando a terra, a criação toda, geme, o povo de Deus geme junto (Romanos 8.22-23).

Não há de ser por acaso que a Visão coloca esses dois versículos um ao lado do outro. A “saída de Deus do Seu lugar” (para o julgamento) e a “reclusão do povo de Deus para o seu lugar” (para a oração) são movimentos simultâneos e complementares. Tal é o potencial do povo de Deus, de influir na dinâmica da história humana. Em lugar algum ele é melhor ilustrado do que em Jesus, que reúne em sua pessoa os dois movimentos. “Quem é que julga? Cristo Jesus, … que também está à direita de Deus, e intercede” (Romanos 8.34). “Vai, povo meu, entra no mais interior da tua casa e fecha as portas atrás de ti!” (Isaías 26.20).

Dia 53 – Ano 2