Em Isaías 28.1-6 temos o começo de uma nova série de 6 “ais” que tematizam a condição presente do povo de Deus. Que, logo se vê, desde a perspectiva profética não é boa. A série anterior está em Isaías 5.8-24. Tanto aqui como lá, o cenário histórico é o tempo do império assírio, com suas movimentações em direção à Palestina.
O primeiro “ai” tem em vista os líderes de Samaria, a capital do reino do norte, Israel, aqui apresentados como “os bêbados de Efraim” (Isaías 28.1; “Efraim” e “casa de Jacó” são nomes para o reino de Israel). O reino do norte conheceu tempos de prosperidade material, em boa medida devido ao solo fértil na região de Samaria. O que geralmente levava ao que a Visão chama de “altivez”, “arrogância”. O texto aqui fala em uma “coroa de soberba” com uma bela flor em relevo. Para o profeta, desde a perspectiva divina essa “gloriosa beleza” é a de uma flor murcha e seca, que ele logo compara a um figo do cedo que é gulosamente arrancado e comido por quem passa (28.4).
Há, portanto, uma assimetria entre o que os líderes efraimitas pensam de si e o modo como o profeta os vê. Ressaltar e denunciar essa diferença, convocando ao arrependimento e à mudança, é um dos objetivos da pregação profética. Quando o profeta os chama de “bêbados”, isso pode se referir literalmente ao seu estilo de vida (“Ai dos que … seguem a bebedice”, Isaías 5.11; “Ai dos que são heróis para beber vinho”, 5.22). Ou pode ser uma expressão figurada para a soberba com que eles enxergam a si próprios. Estão embriagados por sua riqueza e o poder que ela propicia.
Como os líderes de Jerusalém, sua riqueza os torna “sábios a seus próprios olhos” (Isaías 5.21), espertos, inteligentes. O fato de “juntarem casa a casa e campo a campo” (5.8) até ficarem com toda a terra para si, o fato de “por suborno justificarem o perverso e negarem justiça ao justo” (5.23), o fato de “chamarem o mal de bem, e o bem de mal” (5.20) não parece perturbá-los. E assim não percebem que vão “puxando a iniquidade para si com cordas de injustiça” (5.18). Que o Sheol, o mundo dos mortos, já está com a boca aberta para enguli-los (5.14).
“Naquele dia, o Senhor de todos os seres será, para o resto do Seu povo, uma coroa de glória, um diadema de beleza” (Isaías 28.5). A altivez humana tem que ser denunciada, para que “naquele dia só o Senhor seja exaltado” (Isaías 2.17). Essa concentração da grandeza em Deus, por sua vez, não tem outro propósito senão de que todos os humanos tenham sua grandeza reconhecida de modo justo e equânime. A grandeza dos humanos está em abrigar um “espírito de direito”, está em ter força não para guerrear mas para “fazer retroceder a guerra” (Isaías 28.6).
Dia 55 – Ano 2