Depois da palavra dirigida a Samaria (Isaías 28.1-6), o texto volta a por o foco em Jerusalém. “Também estes” (28.7), as lideranças de Jerusalém, também estes “cambaleiam por causa do vinho”: os profetas e os sacerdotes. As visões são confusas ou levam a desvios, os julgamentos vacilantes ou errados. E assim as mesas, o lugar das refeições fraternas, vão ficando insuportáveis (28.8).
O trecho de 28.9-13 permite várias leituras, sem que haja critérios absolutos sobre qual seria a mais adequada. O que aí é dito tem a ver com umas palavras repetidas. Tomadas ao pé da letra, elas teriam a ver com preceitos, regras, e seriam palavras de Isaías contra os profetas e os sacerdotes. Ou elas poderiam significar simplesmente “blá blá blá”. Nesse caso, seriam um deboche ao profeta, que segundo eles ficaria repetindo sempre as mesmas pieguices. Os profetas e os sacerdotes parecem se sentir num estágio mais avançado que Isaías. Não ficam repetindo constantemente a velha toada “do direito e da justiça” como expressões do amor e do cuidado divino com a criação. O cenário seria mais complexo, exigiria interpretações mais arrojadas, mais afinadas com os novos tempos, com os projetos políticos do povo eleito de Deus.
Se o “blá blá blá” de Isaías pode ser desprezado, não poderão desprezar as consequências de terem desprezado o verdadeiro profeta de Deus. Cairão nas mãos dos poderes os quais pensam que podem superar com sua confiança de serem o povo santo, na cidade santa onde fica o templo santo. Um povo cuja língua vai parecer para eles um “blá blá blá” vai “destruir o seu refúgio de mentira” (28.17). Na sua mente eles arquitetaram planos para se proteger de qualquer intempérie. “Fizemos um pacto com a morte, um acordo com o Sheol: quando chegar a enxurrada, ela não nos atingirá” (28.15). Sabem se abrigar na esperteza, sabem fazer jogos políticos para se proteger. Já Isaías tem outro nome para isso. Se refugiaram na mentira, se esconderam atrás de conspirações (28.15). Serão desmascarados, pois o Deus de Israel é o Deus “cujo prumo é o direito, cuja balança é a justiça” (28.17). O pacto deles com a morte será anulado, seu acordo com o mundo dos mortos não terá efeito. Quando chegar a enxurrada, serão pisoteados (28.18-19).
A cama em que pensam descansar (afinal, dizem, Deus prometeu descanso e refrigério ao Seu povo, 28.12) e o cobertor com que pensam se cobrir, serão pequenos demais (28.20). E não adianta ficar rememorando as batalhas do Senhor em favor do Seu povo, no monte Perazim ou no vale de Gibeom. A obra de Deus agora será contra o Seu povo. É o lado “estranho” da obra de Deus que eles vão ver agora (28.21). E o profeta termina com uma advertência: “Parem de debochar, vocês estão tornando sempre mais fortes os laços que os prendem!” (28.22).
Dia 56 – Ano 2