Diante de uma situação complicada que o povo de Deus vivia, o profeta Isaías havia recebido um conselho: “Guarda o Testemunho, sela a Instrução nos meus discípulos” (Isaías 8.16). Ao que ele responde: “Esperarei pelo Senhor, que está escondendo Seu rosto da Casa de Jacó, aguardarei por Ele” (8.17). O profeta há pouco havia denunciado em nome de Deus “os que chamam o mal de bem, e o bem de mal, os que apresentam a escuridão como luz e a luz como escuridão” (Isaías 5.20) e havia sido advertido a ter cuidado para “não chamar de conspiração tudo que esse povo chama de conspiração” e para não temer o que o povo teme, mas temer e santificar o Senhor (Isaías 8.12-13).
Uma situação parecida temos em Isaías 30.8-13. E o conselho, agora para o povo todo, é: “a salvação, para vocês, está em se converter e descansar. A força, em se aquietar e confiar” (Isaías 8.15). Parece paradoxal que, em meio ao pânico e à agitação de uma possível guerra, a palavra de Deus vá nessa direção. Mas se vemos direito, tudo nos projetos divinos aparece a nós como paradoxal. A decisão sugerida envolve um voto de confiança em que Deus sabe o que faz, e que seguir Suas instruções sempre é o melhor para os humanos e a criação toda.
O próprio Deus está dando o exemplo. “Por isso, o Senhor espera para mostrar Sua graça, por isso Ele se levantará para demonstrar a vocês Seu afeto” (Isaías 30.18). Por razões que nos tendem a escapar, a demonstração da graça de Deus, sua “obra própria”, vem acompanhada por Sua “obra estranha”, o julgamento e as correções de rumo que ele exige. “Porque o Senhor é o Deus do direito”. A palavra mishpát (“direito”) em seu sentido mais amplo, designa o conjunto dos parâmetros pelos quais o universo é regido. Por isso ela é usada também para representar o aparato jurídico dos israelitas, com as prescrições e normatizações legais que buscam concretizá-lo. O trono eterno de Deus se assenta em dois pilares: a justiça e o direito. Do trono emanam o amor e a verdade (Salmos 89.14).
Aprender a “esperar em Deus”, então, significa confiar no Deus eterno que, a seu tempo, ausculta cada movimento da criação à luz dos Seus desígnios para com ela. Qualquer desígnio concorrente acabará sendo desmascarado, e seus adeptos chamados a prestar contas. Isso envolve um esticamento de perspectivas, um olhar mais amplo que nos ajuda em nossa constante miopia. Nos ajudar nisso, é um dos propósitos maiores da Bíblia. “Esperar em Deus” não é pieguice, é aprender com o próprio Deus, que, por ser o Deus do direito, sabe esperar. “Felizes todos que esperam nEle”.
Dia 61 – Ano 2