À promessa de governantes pautados pela justiça e pelo direito (Isaías 32.1) segue uma visão de um estado de coisas que reflete estes princípios. Cada pessoa será “como uma proteção contra o vento e refúgio contra a tempestade, como correntes de água em terra seca, como sombra de uma grande rocha em terra escaldante” (Isaías 32.2). Um belo retrato de cidadania humana e responsável. Que não se mede pela ausência de problemas, mas pelo modo como as pessoas se solidarizam umas com as outras.
Em 32.3-5 continuamos “sonhando”, e agora isso se expressa em enunciados do tipo “e não mais…”. As pessoas deixarão de ser manipuladas, deficiências serão sanadas. Em 32.6-7 voltamos à dura realidade, rodeados de pessoas que o texto chama de navál (“tolo, insensato”), egocêntricos pretensiosos que vão juntando riquezas e acumulando mais poder para violar cada vez mais a integridade de outras pessoas, especialmente as mais vulneráveis. Não páram nem diante de Deus. E outras pessoas chamadas de kelai (“fraudulento, vilão”), hábeis em impor versões falsas de acontecimentos, em proveito próprio. Contrastando com tais pessoas temos o nadív (“honrado, nobre”), que espalha o bem e o bom senso por onde passa (32.8).
Em 32.9-12 temos o que no texto é considerado uma consequência do governo dos tolos e fraudulentos. Com o dinheiro que sem princípios amealham para si, suas mulheres vivem em luxo e conforto, uma alta sociedade pairando despreocupada por sobre uma multidão de desprivilegiados. Nem sempre será assim, adverte o profeta. E prevê um tempo em que “a terra do meu povo” ficará abandonada (32.13-14). Até que “se derrame sobre nós o Espírito do alto” (32.15), que a restaurará e fará dela um lugar ainda mais belo e prazeroso. Chama a atenção, nesse texto, a associação do “Espírito do alto” com o florescimento da natureza.
Nesse novo tempo, “o direito habitará no deserto, a justiça morará nos pomares” (32.16). E o texto volta ao seu começo, com governantes pautados pela justiça e pelo direito (32.1). Esse potencial dos humanos de espalhar bênção, não tem sido devidamente percebido e valorizado, nem mesmo em contextos religiosos. “E será então, que o efeito da justiça será a paz” (32.17). “E o meu povo viverá em lares de paz” (32.18). “Estão no caminho certo, vocês que semeiam ao lado das águas!” (32.20). Semear perto de água, é investir numa humanidade que se torna “como árvores plantadas junto a correntes de água”, saudáveis e com bons frutos (Salmos 1.1-3). A palavra ashrêi, que tem sido traduzida como “bem-aventurados” ou “felizes”, representa um tipo de bênção, de reconhecimento e incentivo, uma exclamação: “Estão no caminho certo!” (Isaías 32.20; Salmos 1.1).
Dia 64 – Ano 2