Terminada a série de “ais”, o profeta faz agora uma conclamação geral, pedindo a atenção das “nações” e dos “povos”, “da terra e tudo que há nela, do mundo e tudo que dele emana” (Isaías 34.1). A mensagem é que em Deus há “um grande descontentamento”, “uma forte indignação”em relação a todos os povos. E o aviso é que “serão aniquilados, serão entregues ao morticínio” (34.2). O cheiro será insuportável, os montes parecerão vulcões de tanto sangue escorrendo (34.3). O universo todo será afetado. Os seres celestes serão expostos à degeneração, o espaço cósmico se enrolará como um livro em forma de rolo (34.4). A espada divina ficará embriagada nos céus, de tanto sangue bebido (34.5). São imagens fortes. O que temos aqui é algo como um juízo final. Que engloba tudo. Todo o mundo humano, toda vida na terra, o próprio tecido físico do planeta. Mais, todos os seres celestes, o próprio tecido do universo.
Em 34.5 temos um afunilamento. A espada embriagada nos céus agora desce à terra, mais especificamente “a Edom”. Edom era um povo vizinho, um parente ancestral dos israelitas. Edom era um dos nomes de Esaú, o irmão de Jacó. Vários textos proféticos falam da animosidade entre os israelitas e os edomitas. Amós 1.11 os acusa de terem perseguido seus irmãos israelitas sem misericórdia, com um ódio interminável. Obadias 10-11 fala da “violência feita ao teu irmão Jacó”; que quando Jerusalém foi conquistada os edomitas, em vez de socorrer, tinham participado do saque. O mesmo é dito por Ezequiel (35.1-15), numa palavra profética inteiramente dedicada a Edom, ou Seir. Edom representa o irmão que só se preocupa consigo mesmo, e que aproveita, ou até causa, a desgraça do irmão para obter vantagens.
A espada divina desce sobre Edom “para o juízo” (Isaías 34.5), descrito como uma grande matança (34.6-7), como vingança pelas matanças de israelitas das quais os edomitas participaram. É o dia de “julgar a causa de Sião” (34.8). Edom será completamente destruído, seu território voltará a ser morada de animais selvagens (34.9-15), trazidos para lá pelo próprio Espírito de Deus (34.16), depois de medir o território com “o cordel do nada”, com “o prumo do vazio”, imagens de destruição tão total que representa uma volta à condição da terra antes da criação (Gênesis 1.2: tôhu va-bôhu, “um nada vazio”). O Espírito criador agora faz com que a criação reverta ao nada.
“Edom” representa aqui tudo que se opõe a Deus, neste mundo e no mundo celeste. Tudo na criação que só pensa em si, que serve só a si próprio. O “eu” vai se tornando pretensioso e ambicioso, submetendo a si tudo em redor, não parando nem diante de Deus. Isaías 14.12-17 nos pinta um quadro disso. Seres de luz, dignos de admiração (Isaías 14.12), se deixam inebriar e querem subir cada vez mais e ser “semelhantes ao Altíssimo” (14.14). O movimento gerado por essa pretensão, na verdade os faz descer, até “o mais profundo abismo” (14.15).
Dia 66 – Ano 2