Isaías 34 termina dizendo que, após eliminar Edom de sua terra, Deus a repartiu para os animais selvagens, que “para sempre a possuirão” (Isaías 34.17). Após o drástico julgamento de Edom, que representa a humanidade que rejeita o senhorio divino, em Isaías 35 temos um discurso diferente mas com foco parecido. Esses dois capítulos parecem quase um espelho um do outro, um é como uma imagem inversa do outro.
“O deserto e a terra se alegrarão”, assim começa o capítulo (Isaías 35.1). E termina mostrando as razões disso: “Os remidos do Senhor estão voltando e indo para o Sião, com cânticos e uma alegria eterna sobre suas cabeças. Júbilo e alegria se impõem, tristeza e gemido fogem” (35.10). O texto aqui está dando um salto para a frente no tempo. A visão é provavelmente do povo de Deus voltando do cativeiro babilônico, séculos depois. Mas pode se aplicar a qualquer retorno ao lar depois de um tempo de exílio e sofrimento. Inclusive para indivíduos. A imagem do filho pródigo de volta ao lar (Lucas 15.11-32) serve como boa ilustração.
A ressonância entre a terra e as pessoas que têm nela o seu lar é descrita de forma muito bela. A natureza revive, “a terra”, “o deserto”, “o ermo” expressam sua alegria em ver e receber os que retornam (35.1-2). Os retornantes percebem essa acolhida como expressão “da glória do Senhor, da majestade do nosso Deus” (35.2). Os cansados e sobrecarregados, “mãos frouxas” e “joelhos vacilantes”, “corações desalentados”, são fortalecidos e encorajados (35.3-4). Não só a natureza revive, não só os desalentados se encorajam. Deficiências de todo tipo são restauradas, nesse momento de experiência da transcendência em meio à criação divina (35.5-6). É como ver água surgindo no deserto. Onde até agora só havia areia escaldante, agora há lagos, mananciais de águas. O deserto reverdecerá. O perigoso deserto que antes separava os exilados de seu lar agora se torna uma avenida onde eles podem viajar tranquilos (35.8). Inclusive os animais selvagens de alguma maneira não se aproximarão (35.9), afinal eles já receberam a sua terra (34.17).
É um caminho especialmente aberto para “os redimidos do Senhor” (35.10). Os “imundos” não podem passar (35.8). O nome da avenida será “Caminho Santo”. A santidade pode transitar por ele, a não-santidade é repelida pela própria estrutura física e espiritual do caminho. Coisas que não entendemos bem direito, mas que nos textos bíblicos são indiscutíveis processos divinos. E nem é tanto de admirar, se a própria terra tem vida, expele os que lhe são inimigos (Levítico 18.28) e reconhece e se alegra com a aura de alegria dos seus amigos (35.1; 35.10).
Dia 67 – Ano 2