Contrariando as convenções diplomáticas, o porta-voz dos assírios se dirige agora diretamente ao povo de Jerusalém, que de cima dos muros podia ouvi-lo (Isaías 36.13). Em nome do seu rei, ele começa destratando o rei de Judá. “Não se deixem enganar por Ezequias” (36.14). “E não deixem que Ezequias os leve a confiar no Senhor” (36.15). “Não dêem ouvidos a Ezequias” (36.16). O rei da Assíria lhes promete o que o rei de Judá no momento não pode prometer: voltem a ter uma vida normal, e no devido tempo vocês serão levados para uma terra tão boa quanto a de vocês (36.16-17). A política da Assíria com relação aos povos conquistados era de transplantar as populações, com isso tirando delas o ímpeto de lutar por sua terra.
“Não se deixem enganar por Ezequias” (36.18). Ele pode até dizer “O Senhor nos livrará”, mas não adiantará. “Onde estão os deuses dos…” (e cita vários povos conquistados pelos assírios). Quais desses deuses livraram seus povos? Por que, então, o Senhor o faria? (36.19-20). Um discurso que manipula os suportes de crença fundamentais das pessoas, semeando a dúvida nas mentes e deixando os corações vulneráveis. E com “uma série de dados” para sustentar as afirmações.
O rei Ezequias é amparado, pelo menos em parte, pelas profecias de Isaías. Que, sem desconsiderar o tremendo poder dos assírios, fala em nome do Criador dos céus e da terra, o Poderoso de Israel. Quando Ele diz “povo meu, não tenham medo dos assírios” (Isaías 10.25) é bem isso que Ele quer dizer, e tem como sustentar Suas palavras. “Farei a Assíria em pedaços” (Isaías 14.25). Que a Assíria destruiu várias nações, todos sabem. Que o Egito não seria páreo para ela, o próprio profeta já havia dito (Isaías 20.4). Que Judá é um reino pequeno, e que por cálculos humanos não tem chance diante dos assírios, é confirmado pelos que se regem só por cálculos.
Os enviados para falar com o comandante assírio, depois de ouvir suas bravatas, não disseram mais nada. Com gestos de luto e penitência, levaram seu relatório ao rei (36.21-22). Talvez lembrassem da palavra que o Senhor havia dito, que no momento certo Ele castigaria “a arrogância do coração do rei da Assíria, e a altivez sem limites do seu olhar” (Isaías 10.12). E também que “a salvação, para vocês, está em se converter e descansar. A força, em se aquietar e confiar” (Isaías 8.15). Quanto aos “assírios” de ontem e de hoje: impérios que começam a cair, tendem a subir o tom e tentar demonstrar que continuam invencíveis. Nem por isso o são, é o que a história mostra sempre de novo.
Dia 70 – Ano 2