O rei Ezequias havia sido curado de uma doença dada como terminal, e em consequência viveu e reinou mais 15 anos em Jerusalém. Esse é o cenário de Isaías 39. “Nesse tempo”, assim começa o texto, “o rei de Babel enviou cartas e um presente a Ezequias, pois tinha ouvido que ele tinha adoecido e se curado” (Isaías 39.1). Ezequias se sentiu valorizado, e contente mostrou aos enviados de Babilônia todas as preciosidades do seu reino, os tesouros, os arsenais, “não houve nada que Ezequias não mostrasse a eles, em seu palácio e em seu reino” (39.2).
Informado disso, o profeta Isaías foi ter com o rei e o indagou sobre o que esses emissários tinham falado, e de onde tinham vindo. “De uma terra distante”, disse o rei, “de Babel” (39.3). “E o que foi que eles viram?”, perguntou. “Tudo, lhes mostrei tudo”, resumiu o rei (39.4). Então Isaías anunciou ao rei a palavra do Senhor a respeito desse assunto. “Dias virão”, disse o profeta, “em que tudo que há na tua casa, tudo que juntaram os teus antepassados até hoje, será levado a Babel, não sobrará nada” (39.5-6). “Também dentre os teus filhos, que saíram de ti, que geraste, tomarão alguns e farão deles eunucos no palácio do rei de Babel” (39.7).
Esse episódio que o profeta Isaías selecionou, de todos os 15 anos de vida e reinado que foram acrescentados a Ezequias depois de sua cura, parece ter dois propósitos. O primeiro aponta para a frente, para o surgimento de um novo império oriental. Naqueles dias a Babilônia já estava começando a crescer e mostrar músculos no tabuleiro geopolítico. Historicamente, ainda vai levar um tempo até eles se tornarem os soberanos incontestáveis no mundo conhecido na época. Na Visão de Isaías, a Babilônia vai ser o palco central das ações nos próximos capítulos. Sinais dessa supremacia já haviam sido dados no livro . O primeiro dos oráculos contra as nações (Isaías 13.1 — 14.23) é dirigido aos babilônios, além de uma profecia mais breve em Isaías 21.1-10 e possíveis menções espalhadas aqui e ali.
O segundo propósito aponta para o presente, para a vulnerabilidade que Ezequias passou a mostrar depois de ter experimentado o “milagre” da cura. Em vez de sair fortalecido, parece que foi o contrário. O seu louvor pela sua restauração (Isaías 38.9-20) mostra, que durante o tempo da doença, ele havia se agarrado à vida de tal forma que parecia que o resto agora já importava bem menos. O filho nascido depois da sua cura, no seu “tempo de graça”, se tornou seu herdeiro e teve um reinado nefasto para o povo de Deus em Judá e Jerusalém. Ao ouvir de Isaías uma palavra de condenação, sua resposta expressa bem o jeito que ele passou a ver as coisas depois de ter recebido um prolongamento da vida à qual ele tanto havia se apegado: Tudo bem… O que importa é que nos meus dias haverá paz e o Senhor manterá a Sua palavra… (Isaías 39.8).
Dia 75 – Ano 2