O povo de Deus no exílio está ouvindo uma mensagem de esperança, esperança da libertação que Deus está anunciando pelos Seus profetas. Aqui sucede algo que rompe com os nossos esquemas normais de pensamento. A mensagem convida a receber e assumir interiormente a nova realidade que está sendo anunciada. Mas ainda não aconteceu, respondemos nós. Quando acontecer, então aceitaremos e passaremos a viver de acordo. E assim nossas próprias palavras revelam o nosso problema. A nova realidade está sendo anunciada com o propósito de o povo de Deus assumi-la como a nova realidade e passar a viver por ela, e não como escravos dos “acontecimentos”.
Isso é “viver pela fé”. Viver confiando em que o Deus que diz que isso vai acontecer, sabe o que diz e é capaz de fazer. A Carta aos Hebreus um dia vai esclarecer isso de um jeito bem expressivo: “Ora, a fé é concretização da esperança, é estar convencido daquilo que os olhos não vêem” (Hebreus 11.1). O que acontece quando isso acontece? A fé, a confiança, traz para dentro uma realidade que já existe fora. Como promessa, mas promessa “que nunca vai deixar passar vergonha”, como gostam de dizer os textos bíblicos. A esperança que essa promessa suscita se torna uma convicção, e a convicção dessa nova realidade é ela própria um grande fator de gestação da nova realidade! Os humanos aqui são como que “co-criadores”.
Viver essa nova realidade já agora, na convicção da esperança, na confiança de que Deus sempre fez o que prometeu e não é agora que vai deixar de fazer: essa é a mensagem. Isso o povo de Israel precisava aprender, para levar ao mundo a bênção. Mas ele preferiu fazer outras coisas. E acabou no exílio, na morte. O sofrimento da morte pode fazer duas coisas. Agarrar-se à continuação da vida como agora ela é, ou aceitar a morte dessa vida como agora ela é, confiando na promessa da ressurreição anunciada pelo Deus que diz e faz, e que nunca deixou de fazer o que diz. Um exemplo da primeira tivemos no caso do rei Ezequias, em Isaías 38. Um exemplo da segunda temos aqui em Isaías 40. Temos? Isso ainda vamos ter que ver. O problema, em todo caso, está posto. Em seu exílio, em sua morte, Israel terá aprendido a viver na esperança, ou achou um jeito de continuar vivendo do jeito que vivia?
Essa pergunta gira ao redor de dois elementos decisivos. A relação com Deus, e a relação com o ser humano. E os dois estão profundamente ligados. Isso é resumido em Isaías 40.18. “Como vocês imageiam Deus? Que imagem vocês fazem dEle?”. Ter a imagem certa de Deus, esse é o resumo do resumo. Mas como, se Deus disse para não fazer imagens dEle? Desde o começo da narrativa bíblica sabemos que Deus criou uma imagem de Si em nosso mundo. O que não devemos é fazer outra, ou outras.
Dia 81 – Ano 2