“Como vocês imageiam Deus? Que imagem vocês fazem dEle?” (Isaías 40.18). Essa pergunta é feita de novo, de um jeito um pouco diferente, em 40.25. É o tema central de Isaías 40.18-31. Um tema central no Livro de Isaías. Um tema central da narrativa bíblica como um todo.
Uma resposta a essa pergunta é a mais óbvia. “Um artesão faz uma imagem”, uma imagem que ele molda a partir de metal fundido. Aí “um ourives a cobre de ouro”, caprichando nos traços (40.19). Essas são as mais caras. Tem também as feitas de madeira (40.20). São “os ídolos”, um problema crônico em Israel, como vemos desde Isaías 2. O que sempre de novo nos atrai a eles? O problema é que o povo de Deus pode reverenciar seus ídolos pensando que não são ídolos. Pode adorar o bezerro de ouro achando que está adorando o Deus de Israel.
“Vocês não percebem? Não ouvem? Não tem sido dito a vocês desde o começo? Vocês não conseguem compreender o que são os fundamentos da terra?” (40.21). Por mais que Deus esteja falando isso “desde o começo”, Israel parece sequestrado, não consegue entender. O boi sabe, o jumento sabe, Israel não sabe nem quer saber (Isaías 1.3). Talvez o povo de Deus esteja tão preocupado com minúcias religiosas que perde de vista “os fundamentos da terra”. Os fundamentos da religião remetem aos fundamentos da criação. Que o profeta não cansa de mostrar, e o povo de Deus não cansa de não compreender. Os frutos que Deus espera de Sua videira são os que expressam e reforçam os fundamentos da terra: o direito e a justiça (Isaías 5.7). Mas isso Israel parece ter dificuldade de compreender. Por quê?
Talvez o povo de Deus tenha dificuldade de compreender os fundamentos da terra, porque tem dificuldade de compreender Deus. “Como vocês imageiam Deus? Que imagem vocês fazem dEle?”. Ele é “o que está entronizado sobre os querubins” (Isaías 37.16), sim, no santuário interior do Templo. E é também “o que está assentado sobre o círculo da terra” (Isaías 40.22). Ele é o Criador, Ele é o Senhor do universo (40.23-24). A verdade é que sempre é possível ficar tão entretidos e compenetrados com o interior do templo, que se pode esquecer que Deus é o soberano do universo todo. “Como vocês me imageiam? A que me comparam?” (40.25).
“Levantem os olhos para o alto, e vejam!” (40.26). Quando a realidade do mundo nos distrai demais, ou nos sequestra, ou faz de nós seus escravos, precisamos dar uma parada e mudar o foco. Se não o fazemos por vontade própria, no Seu amor por nós o próprio Deus se encarrega de nos deixar viver os sofrimentos do exílio. Quando estamos no fundo do poço, só uma direção faz sentido: “Levantem os olhos para o alto, e vejam!”.
Dia 82 – Ano 2