Uma voz clama convocando a que se prepare no deserto o caminho do Senhor (Isaías 40.3). Por onde Deus passa, vales são aterrados, elevações são niveladas, caminhos tortuosos são corrigidos, caminhos difíceis são aplainados (40.4). O caminho do Senhor é o caminho do povo do Senhor, que retorna à sua terra. Essa identificação é muito cara à narrativa bíblica. Mesmo que os caminhos de Deus não sejam os nossos, e que sejam tão mais altos que os nossos (Isaías 55.8-9), Ele se compraz em identificar os Seus caminhos com os nossos. A Sua glória se manifestará nesse caminho, mas o que “toda carne” verá (Isaías 40.5) será o povo de Deus retornando à sua terra, ao seu lar.
O povo de Deus “é carne”, é grama que seca rápido. O mais importante é que vai com ele algo que é permanente, que não está sujeito a nenhum tipo de degeneração: a Palavra de Deus (Isaías 40.8). O povo de Deus morreu, o que sobrou foi um vale de ossos secos (Ezequiel 37.1-14). Contudo, a Palavra de Deus “permanece eternamente” (Isaías 40.8). A Palavra que tinha decretado e trazido o fim do povo de Deus é a mesma que, quando pregada aos ossos secos no poder do Espírito, os faz reviver e começar de novo (Ezequiel 37.11-14).
É essa Palavra que agora é anunciada em alta voz a Sião, a Jerusalém, às cidades de Judá (Isaías 40.9). “Vejam, o Senhor, o Senhor vem!” (40.10). O Poderoso é o Pastor do Seu povo (40.11). Aquele cujo braço governa o universo, carregará em Seus braços os cordeirinhos. O texto não cansa de ressaltar esses contrastes. Quem juntou as águas do universo na palma da mão? Quem mediu os céus com a palma da mão? Quem conhece e controla cada grãozinho de terra desse mundo? (40.12). E para isso Ele não precisou do nosso conselho (40.13-14). O conjunto das pessoas desse mundo são para Ele “um pingo que cai dum balde”, “um grão de pó que cai duma balança” (40.15). Todas as nações juntas são “um nada”, “um vazio” diante dEle (40.17).
Essa é a mensagem que a Visão de Isaías não cansa de repetir. Essa é a mensagem que a videira de Deus era para ter buscado como a videira busca água em seu solo pedregoso. Mas há um brilho no pingo de água, que nos seduz. Uma fascinação no grão de pó, que nos enfeitiça. E preferimos buscar o nada e o vazio, em vez de buscar a Deus. Antes de ser criado pelo Deus que enche os céus e a terra, o universo era “um nada vazio”. E parece que é para ali que o povo de Deus quer voltar sempre de novo.
Quando o profeta anuncia que o tempo do serviço está no fim, que a iniquidade é perdoada, que os pecados foram retribuídos em dobro (Isaías 40.2), isso é história vista desde a perspectiva divina, desde a nossa é discurso de esperança. A realidade continua a “da carne”, da grama seca. No exílio o povo “deu sua alma como oferta pelo pecado”. Agora ele é chamado a ser o servo de Deus, cujo “penoso trabalho da alma” dará fruto, o justo “que justificará a muitos, porque as iniquidades deles levará sobre si” (Isaías 53.10-11).
Dia 80 – Ano 2