Na presença do Deus de toda a terra, os povos são chamados a debater sobre o sentido dos acontecimentos (Isaías 41.21). Nesse debate eles são levados a se repensar cada vez mais profundamente. Perceber que só há, e só pode haver, Um Deus. Que estava aí quando nada havia, e que continuará aí quando nada mais houver. O Deus que chama à existência “todas as gerações, desde o começo” (41.4). Que comparados a Ele, os povos são “menos que nada” (40.17). Mas são parte do imenso “exército dos seres” que Deus chama por nome, um a um (40.26). Que os humanos em sua debilidade “são carne” (40.5-7), mas que são amados pelo Deus “que cria os céus e os estende, que molda a terra e tudo que ela gera, que concede o sopro divino ao povo que nela habita, o espírito aos que andam nela” (Isaías 42.5).
Deus só pode ser Um. Isso não implica exclusão, discriminação de qualquer tipo. Na verdade isso representa a garantia de que não haja exclusão ou discriminação. Todas as criaturas são singulares. Torná-las menos que singulares, submetê-las a generalizações de qualquer tipo, é ir contra os propósitos do Criador de cada uma delas. Os ídolos são expressão de processos de degeneração. Cultuá-los significa se resignar a esses processos e normalizá-los. Quando os deuses são setorizados, a consequência é grupos humanos setorizados. Daí a uma guerra entre deuses, e a uma guerra entre grupos setorizados, é um passo.
Por isso os ídolos e os deuses que eles representam são chamados a mostrar a que vieram (Isaías 41.22). Que dêem evidências de que estão no mundo desde o começo e que aí continuarão, que expliquem o sentido dos acontecimentos passados e que digam o que vai acontecer no futuro. Se são deuses, devem poder fazê-lo (41.22-23). Os povos que apelam a eles precisam se dar conta da futilidade desse apelo. Pois, como os povos, também os ídolos são “menos que nada” (41.24). As pessoas se apegam a eles por terem sido massificadas. Cada uma procura em alguma tribo a individualidade que lhes tem sido negada. Só para serem ainda mais massificadas.
O próprio povo de Deus faz ídolos e a eles se apega. O exílio foi por causa disso. Os israelitas dispersos pelo mundo nem sempre resistiram ao poder e à sedução dos ídolos. Muitas vezes acharam jeitos de normalizá-la, e mesmo de mascará-la como formas de adoração ao Deus verdadeiro. E com isso foram perdendo a sua identidade. E deixando de mostrar aos povos a verdadeira identidade de cada ser humano. Por isso o confronto com os ídolos aqui é tão relevante e urgente. Os humanos não foram criados para ser subjugados a deuses e potências setoriais, que setorializam e fragmentam o que no coração de Deus é unido. E é só achando o caminho de volta ao Deus Uno, que lhes doou e lhes garante a dignidade de serem únicos, singulares, que acharão o caminho de volta a si próprios.
Dia 85 – Ano 2